quinta-feira, 7 de abril de 2011

A tirania do compromisso

A palavra compromisso tem muito que se lhe diga. O Priberam define:

compromisso
s. m.
1. Obrigação contraída entre diferentes pessoas de sujeitarem a um árbitro a decisão de um pleito.
2. Promessa mútua.
3. Concordata de falido com os seus credores.
4. Acordo político.
5. Estatutos de confraria.
6. Escritura vincular.
7. Convenção.
8. Contrato.
9. Comprometimento.
10. Ajuste.
Acordo, ajuste, contrato. Num compromisso, compromete-se, cede-se, sobre o pacto de um objectivo comum.

O diálogo político actual circula muito em torno desta palavra. Há um compromisso entre o centrão de rotatividade entre gestores, bem sabemos; há um compromisso entre o Estado e a Banca (surpreendentemente separados) de restrição mútua; há um compromisso entre o 'nós' - portugueses! que quando os coiotes se vêm alimentar retornamos ao paleio da unidade nacional! - e a Europa de cumprir metas arbitrárias de um falso crescimento.

Com a imagem da intransigência e extremismo, eu assumo-me contra o compromisso. Chamem-me sectário, vá. Eu não aceito a treta do bem público como lama que me atirais ao focinho para abrir nas minhas costas a porta da pocilga aos javalis. Já o vi assim, tantas vezes, por mim próprio ou por leituras de soslaio, a história deste país: o processo através do qual sucessivas políticas de compromisso dinamitaram as fundações de uma verdadeira sociedade de humanos; os erros, valha-nos deus, os mesmos erros cometidos em catadupa pelas mesmas pessoas na rotatividade cíclica dos cargos políticos e administrativos, constante e sucessivamente.

(agora vejo-os aí: na televisão, no parlamento, no conselho de Estado, a alvitrar sobre a identidade do povo e a responsabilidade social - TU estavas lá, malandro)

Porque não é fascismo, dizem eles! Atreves-te a comparar! Certamente não o é, pois a opacidade fascista não lhe permite agir com a tamanha perfídia e descaramento destes predadores sem cara nem causa a que chamamos "mercados" e "ratings" e "conjuntura internacional" (ah, como eu adoro a conjuntura internacional!).

Mas onde eu queria chegar? Sim, a união das esquerdas. Não há rumo libertador e responsável que não possa assumir o mais acérrimo anti-capitalismo. Em tempos de assalto, a reacção tem que ser violenta (ainda que uma violência discursiva, pacifista) e, acima de tudo, intransigente. Para isto a que chamamos 'esquerda' ter força, tem que desenhar a linha e bater o pé.

Não a nossa linha, a linha do compromisso, a linha do "podes vir até aqui". A linha DELES. Ficas aí, e daí não sais. Os lobos na jaula enquanto nós tiramos fotografias, por favor. Por nós e pelos nossos, o tempo é de união de interesses comuns, não de compromisso de ideais.

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