quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Preço da Cultura

No fim-de-semana prolongado tive ocasião de visitar parte da Região Oeste finalizando a viagem em Lisboa. No Domingo de Páscoa tive a (má) ideia de passar por Sintra. Uma vila perto da capital que foi classificada património da humanidade iria estar repleta de turistas e de um trânsito infernal. Contudo, nem foi propriamente isso que me incomodou, mas sim os preços exorbitantes para visitar o tal património.

Na estação de comboios é possível apanhar um autocarros que faz o circuito até ao Palácio da Pena efectuando paragens no centro histórico e no Castelo dos Mouros. No percurso de subida é possível sair nessas paragens e voltar a entrar com o mesmo bilhete, sendo que o percurso de descida é realizado de uma só vez. O preço do bilhete é nada mais nada menos que 4,80€. Um pouco caro, sim senhor, mas aceitaria de bom grado se os restantes bilhetes não fossem "um roubo".

Chegámos ao Castelo dos Mouros. A última vez que tinha estado em Sintra, há cerca de 5 anos, este monumento era completamente gratuito. Então, qual não foi o meu espanto quando me aproximei das novas bilheteiras e verifiquei que o preço de um bilhete individual normal era de 6€? E, depois só podia ser a gozar, o bilhete com desconto de Cartão Jovem era de 5,5€! Recusei-me a entrar. Seguimos então para o Palácio da Pena.

Chegados ao local (em cuja última visita paguei cerca de 5€), eis que surge mais "um roubo". Olhem a estratégia deles, dividiram a área do palácio e respectivo parque em três, então, para ver apenas o parque o bilhete seria de 6€; para ver o parque mais os pátios exteriores do palácio (que truque!) custaria 8€; e, finalmente, para ver tudo, pagar-se-ia nada mais nada menos que 11€! Mais uma vez, recusei-me a entrar.

Aceito perfeitamente que se cobrem entradas nos museus como forma de ajudar na recuperação e manutenção do património, não ponho isso em causa. O que ponho em causa são estes valores. Afinal a cultura vai ser para quem? Já sabemos que quando as crises económicas entram em cena, a primeira coisa a sair são os apoios à cultura e assim se perpetuam elites educadas e com possibilidades de ver e conhecer o património português, enquanto ao zé povinho se enche os olhos e a cabeça com futebol e casamentos reais.

E aqui tenho de fazer menção à extraordinária visão dos que dirigem a RTP pois a transmissão em directo do casamento do príncipe William com quatro jornalistas destacados (dois deles em Inglaterra) é de facto um rasgo de génio. Gostaria de saber quanto custou esta brincadeira que é, literalmente, para inglês ver. Perdem-se milhões nestas palermices gratuitas, mas para nos educarmos a sério, pagamos e bem!

Finalmente, gostaria de salientar que agora parte dos parques e palácios de Sintra são geridos por uma empresa de capitais públicos. Suponho que isto seja o factor determinante na mentalidade mercantil da cultura.

1 comentário:

Unknown disse...

Uma evidência interessante é precisamente essa crescente equiparação do capital económico ao cultural. Como ouvi de outra pessoa, nos momentos em que a crise aperta é que se observa, afinal, quem é que tem acesso a quê.

A mobilidade na estratificação do capital cultural, arma fundamental para a emancipação dos grupos social e economicamente desfavorecidos, é cada vez mais impedida por estas políticas de consumo e demonstra o derradeiro grito de vitória do poder económico. Coisa pouco surpreendente, tendo em conta a actual deriva meritocrática das sociedades ocidentais.