Há outros que já escreveram (melhor) sobre o que se passa hoje em dia. Desafio-vos a dizer a que período do século XX se referem os seguintes excertos:
«A história da economia mundial desde a Revolução Industrial fora de acelerado progresso técnico, de crescimento económico contínuo mas irregular e de crescente "globalização", ou seja, de uma divisão mundial cada vez mais elaborada e complexa de trabalho.
«(...) Um impressionante e crescente desequilíbrio na economia internacional, devido à assimetria de desenvolvimento entre os EUA e o resto do mundo.
«O que tornava a economia tão mais vulnerável a esse boom de crédito era que os consumidores não usavam os seus empréstimos para comprar os bens de consumo tradicionais, que mantêm corpo e alma juntos, e têm portanto muito pouca variação (...) os consumidores compravam os bens supérfluos da sociedade de consumo moderna em que os EUA, mesmo então, já estavam a entrar.
«Economistas que aconselhavam que se deixasse a economia em paz, governos cujo primeiro-ministro, além de proteger o padrão-ouro com políticas deflacionistas, era apegar-se à ortodoxia financeira, aos equilíbrios de orçamento e à redução de despesas, visivelmente não tornavam melhor a situação.»
Eis a solução:
«Aqueles de nós que viveram os anos da GRande Depressão ainda acham quase impossível compreender como é que as ortodoxias financeiras do puro mercado livre, na época tão completamente desacreditadas, vieram mais uma vez a presidir a um período global de Depressão em fins de 80 e 90, que, mais uma vez, foram igualmente incapazes de entender ou resolver. Mesmo assim, esse estranho fenómeno deve lembrar-nos a grande característica da história que ele exemplifica: a incrível memória curta dos economisas teóricos e práticos.
«O que era uma "economia de mercado livre" numa época em que economia era cada vez mais dominada por imensas corporações que tornavam absurdo o termo "competição perfeita"?
«O fortalecimento da direita radical foi reforçado, pelo mesmo durante o pior período da Depressão, pelos espectaculares reveses da esquerda revolucionária. (...) O resultado imediato da Depressão, pelo menos na Europa, foi exactamente o oposto do que os revolucionários sociais tinham esperado.
«Provavelmente nada demonstra mais a globalidade da Grande Depressão e a gravidade do seu impacte do que essa rápida visão panorâmica dos levantamentos políticos praticamente universais que ela produziu num períodos medido em meses ou em anos isolados.»
Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos - História Breve do Século XX (1914-1991)
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