quinta-feira, 5 de maio de 2011

MUDÁMOS DE MORADA - MIGRÁMOS PARA O WORDPRESS

 

Porque os Quatro Sentidos do Tasco preferem trabalhar com "open source", migrámos de armas e bagagens para

Visitem-nos e digam de vossa justiça!


terça-feira, 3 de maio de 2011

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Tretas

Pelo que tem corrido por aí, parece que o famigerado Bin Laden morreu, motivando os urros de vitória dos mais cavernosos de Washington. Eu pergunto: será que ainda alguém leva a sério estas "notícias"? Sejamos francos, o Bin Laden serviu como bode expiatório para a guerra ao terrorismo, enquanto vivo e depois de morto. Ponto final. O mais provável é que o barbudo estava a fazer tijolo há uma série de anos. Para relembrar a "comunidade internacional" da justeza da guerra colonial no Afeganistão, lá se publicava de vez em quando uns vídeos duvidosos de um marmanjo qualquer a debitar algum mambo-jambo em árabe e pronto. Agora, exactamente dez anos depois do evento que despoletou a nova ofensiva colonial, o 11 de Setembro, dispensando-se já a existência de um qualquer pretexto para intervir globalmente, estando a guerra ao terrorismo já suficientemente legitimada, noticia-se a morte da cenoura atrás da qual os burros corriam.

Ademais, parece que, depois de matarem o sobredito líder terrorista, as autoridades norte-americanas atiram o seu corpo ao oceano. Sou só eu, ou isto é uma forma bem expedita de tratar os restos mortais de um terrorista internacionalmente procurado?

Enfim, ainda alguém acredita nestas tretas?


Aqui fica um contributo musical de uma conhecida banda lusa, especialista em assuntos de guerra.

domingo, 1 de maio de 2011

A agência Lusa, os anarquistas e a CGTP

Quando chego às redes sociais, depois de um 1º de Maio bem celebrado na minha paz, vejo-me deparado com uma deprimente imagem.

Em Setúbal, um grupo de jovens foi atacado pela polícia.

Antes de mais nada: sim, foi isto que aconteceu. Não sei se houve desacatos (mais abaixo), provavelmente terá havido troca de palavras...

Ora analisemos a cobertura informativa sobre o assunto. A coisa foi relatada por duas frentes: por um lado, o informante da agência Lusa; por outro, a comunidade de internautas que assistiram ao serviço e que contribuem, por meios alternativos, com o que sabem.

O informante da Lusa diz:

Confrontos entre um grupo anarquista e forças de segurança no Largo da Fonte Nova, em Setúbal, resultaram em três feridos e várias pessoas identificadas pela PSP, disseram à Lusa fontes policiais e do Hospital São Bernardo.
O grupo constituído por algumas dezenas de anarquistas, que trajavam de negro, seguiu de perto o tradicional desfile do 1.º de Maio da União de Sindicatos de Setúbal (USS), afecta à GGTP, que partiu da Praça de Quebedo em direcção à avenida Luísa Todi, mas, segundo fonte sindical, não se registaram incidentes.

Segundo a mesma fonte, a partir de determinada altura os anarquistas acabaram por seguir outro percurso, em direcção ao Largo da Fonte Nova.

Fonte policial adiantou que os incidentes terão começado quando as forças policiais chegaram ao local e foram recebidas com o arremesso de vários objectos, depois de terem sido alertadas por populares para o barulho e para alguns comportamentos menos próprios dos anarquistas.

“Os elementos da PSP tiveram de efectuar alguns disparos de shot-gun”, confirmou à Lusa um porta-voz da corporação, admitindo a possibilidade de haver alguns feridos ligeiros.

O Gabinete de Comunicação do Hospital São Bernardo confirmou à Lusa que deram entrada no serviço de urgência três pessoas que terão sofrido alguns ferimentos ligeiros, alegadamente nos incidentes que ocorreram na Fonte Nova, mas adiantou que já todos tiveram alta.

Contactado pela Lusa, um dos participantes no que classificou como uma "manifestação anti-capitalista" e que pediu o anonimato, disse que no final do protesto, "chegou um carro de patrulha da polícia que pediu para baixar [o som] da música que vinha da mala de um carro e pediu identificação a algumas pessoas que não se quiseram identificar".

Entretanto, prosseguiu, "chegou um carro da polícia de intervenção" ao Largo da Fonte Nova. "Tinham armas de balas de borracha e armas reais, gás pimenta e cassetetes", tendo a polícia e os manifestantes entrado em confrontos.

"Foi um cenário desmesurado para o que se estava a passar", concluiu.

Esta informação vem do Público. Este não identifica a informação como vinda da Lusa (um verdadeiro copy-paste) mas não faz mal: a veracidade daquilo que é apresentado no Público online vale o que vale. Seja como for, uma olhadela pela informação dos outros jornais (Sol, DN, JN) apresenta exactamente a mesma informação - o mesmo texto até, com parágrafos trocados para dar aquela ideia de trabalho - sendo que alguns até se dão à decência de identificar a fonte.

O texto da Lusa, claramente parcial, dá conta de "dezenas" de anarquistas (embora as declarações de quem falou apenas irem no sentido de dizer daquela manifestação ser anti-capitalista - ler acima -, pelo que se depreende que os "anarquistas" foram identificados por haver pessoas vestidas de preto) que se "envolveram em desacatos" com a polícia.

Ora, o problema é que diz quem lá esteve (certamente nenhum dos jornalistas dos jornais mencionados para além do informador da Lusa) que o protesto foi pacífico; que contou com duas centenas de pessoas (dezenas! claro, 20 dezenas são dezenas na mesma - ninguém mentiu!) e que a carga policial se deu sobre estas enquanto, no fim da manifestação, se juntavam num largo ao som de música e alguma festa. Que, de resto, desde o fim do fascismo, é legal. Dizem também que os feridos foram mais do que três e que houve um ferido grave. Link alternativo.

Argumentar-se-ia que as fontes que contrariam a Lusa são igualmente parciais. Certo. No entanto, o artigo do Sol não se conteve na busca das imagens deste blog - também parcial - ignorando descaradamente as delcarações de quem colocou lá as fotos, num claro caso de parcialidade jornalística que merce o mais profundo repúdio. Parcial o tanas, é obrigação de um serviço de notícias reportar as perspectivas disponíveis, não afunilar numa em péssimo jornalismo. Não somente, o facto de o indymedia e o esquerda.net não serem parciais não justifica a parcialidade da Lusa. Esta, juntamente com os jornais que se servem do seu trabalho, tem o dever de não apresentar 'factos' sem os confirmar; de relatar precisamente aquilo que se sabe, não aquilo que se julga ter acontecido.

Especialmente num caso destes, em que a polícia carrega sobre cidadãos em protesto.

Finalmente, uma bela duma reprimenda à CGTP que conseguiu, mais uma vez, enviar a polícia para cima daqueles que apresentavam uma manifestação alternativa. O que aconteceu no anti-NATO foi o que se viu e agora a história repete-se. "O povo unido..." o raio que vos parta.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

God Save The Queen!

É inacreditável. Vamos lá ver: mas afinal quantas pessoas há em Portugal interessadas no raio do casamento dos príncipes para justificar semelhante cobertura dos media?

Eu esperava isto da TVI, claro, já que para atulhar a televisão de lixo estão aqui as tropas armadas para o serviço. Esperava isso, também, da SIC - embora ache contraditório que a deriva liberal dos seus dirigentes se coadune com este triste espectáculo -, depois de estes terem feito da sua programação de 25 de Abril três (!) filmes sobre casamentos de realeza.

A RTP, por sua vez, cumpre o seu papel como televisão do Estado e assiste à glorificação da monarquia fantoche e decadente do Reino Unido. De que falam eles? Da corrupção do sistema legal britânico? Da hierarquia inquestionada e inultrapassável deste bastião de democracia?

Não. Falam de roupa, de convidados, de luxúria. Encenam a fairy tale - ainda há quem sonhe em ser princesa? - e elaboram em torno dela uma masturbação inacreditável, ininterrupta, entusiástica. Masturbação, aliás, que roça o estupro, já que qualquer frase de bajulação proferida soa tão forçada que devia ser tornada ilegal.

No fim, claro, aparecem as personagens do costume, que se alimentam destes momentos para rectificar o seu papel insignificante na sociedade. Falo, evidentemente, do D. Duarte, que não foi convidado para a cerimónia. Aliás, "Dom" Duarte o tanas. Duarte. Aceitaria, pelo respeito costumeiro, um "Senhor" Duarte, no máximo.Não esqueçamos que vivemos numa República.

E mais não digo, porque o esforço para não começar com palavrões está-me a desgastar e esta é uma bela manhã de sexta-feira, que eu celebro com muito mais fervor do que qualquer casamento em qualquer lado.


Link

A Convenção vai começar!


O BE, partido social-democrata em processo de estalinização, vai ter a sua Convenção Nacional nos próximos dias. Segundo averiguei em conversas com militantes bloquistas, estes já estão a preparar-se para o "debate interno". A informação foi depois confirmada pelo simpático comerciante da foto.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

RSI

Mais um daqueles tópicos que atrai fachos como a carne podre atrai varejeiras.

Esses indivíduos, feitos cavaleiros, perseguem o relativo conforto da 'esfera pública' - traduzindo, os centros de opinião, os pontos de debate, onde o espaço lhes é atribuído (como, de resto, lhes atribui a liberdade de expressão) para debitarem resmas de opiniões de tablóide congeminadas nos seus cérebros paralisados por anos e anos de miopia agravada.

Uma inacreditável caça às bruxas, que atravessa classes sociais mais eficazmente que qualquer revolução social dos últimos 300(0?) anos (embora, felizmente, não em número!), desde o trabalhador frustrado que inveja o vizinho - a quem dou o benefício da sua relativa inocuidade - até aos pintos gordos 'influentes' e decisores deste país. Estes que sim, proferem barbaridades que enojariam o mais pio dos Fernandos Nobres deste mundo (se não estivessem demasiado ocupados a suster a redoma em que se instalaram), e que têm nas mãos a faca, o pão e o queijo.

E que dizem? O mesmo do costume. "Eles" (especulo, com devida segurança, que este "eles" é muito masculino) andam aí, com os seus carros e as suas casas [sem fundamentação] a viverem à custa do Estado [sem fundamentação], sem o 'merecerem' (ah, como eu gosto) [sem fundamentação].

Claro está que se conclui, nesta lógica retorcida e em jeito de conclusão, haver aqui a etiologia para TUDO AQUILO QUE ESTÁ DE MAL NESTE PAÍS. Sim. Não são os gordos* que seguram grande parte da economia, que controlam a indústria, que enriquecem à pala de seguidismos e palmadinhas nas costas. A culpa, diz esta gentinha, é de quem recebe a avultada soma de 189,52€ por mês. Que, como sabemos, só pode é levar ao descalabro económico de qualquer sociedade.

Tenham juízo.

--

*Sem querer cair em desrespeito por quem tem excesso de peso corporal. Refiro-me antes a outros excessos de peso.

O Preço da Cultura

No fim-de-semana prolongado tive ocasião de visitar parte da Região Oeste finalizando a viagem em Lisboa. No Domingo de Páscoa tive a (má) ideia de passar por Sintra. Uma vila perto da capital que foi classificada património da humanidade iria estar repleta de turistas e de um trânsito infernal. Contudo, nem foi propriamente isso que me incomodou, mas sim os preços exorbitantes para visitar o tal património.

Na estação de comboios é possível apanhar um autocarros que faz o circuito até ao Palácio da Pena efectuando paragens no centro histórico e no Castelo dos Mouros. No percurso de subida é possível sair nessas paragens e voltar a entrar com o mesmo bilhete, sendo que o percurso de descida é realizado de uma só vez. O preço do bilhete é nada mais nada menos que 4,80€. Um pouco caro, sim senhor, mas aceitaria de bom grado se os restantes bilhetes não fossem "um roubo".

Chegámos ao Castelo dos Mouros. A última vez que tinha estado em Sintra, há cerca de 5 anos, este monumento era completamente gratuito. Então, qual não foi o meu espanto quando me aproximei das novas bilheteiras e verifiquei que o preço de um bilhete individual normal era de 6€? E, depois só podia ser a gozar, o bilhete com desconto de Cartão Jovem era de 5,5€! Recusei-me a entrar. Seguimos então para o Palácio da Pena.

Chegados ao local (em cuja última visita paguei cerca de 5€), eis que surge mais "um roubo". Olhem a estratégia deles, dividiram a área do palácio e respectivo parque em três, então, para ver apenas o parque o bilhete seria de 6€; para ver o parque mais os pátios exteriores do palácio (que truque!) custaria 8€; e, finalmente, para ver tudo, pagar-se-ia nada mais nada menos que 11€! Mais uma vez, recusei-me a entrar.

Aceito perfeitamente que se cobrem entradas nos museus como forma de ajudar na recuperação e manutenção do património, não ponho isso em causa. O que ponho em causa são estes valores. Afinal a cultura vai ser para quem? Já sabemos que quando as crises económicas entram em cena, a primeira coisa a sair são os apoios à cultura e assim se perpetuam elites educadas e com possibilidades de ver e conhecer o património português, enquanto ao zé povinho se enche os olhos e a cabeça com futebol e casamentos reais.

E aqui tenho de fazer menção à extraordinária visão dos que dirigem a RTP pois a transmissão em directo do casamento do príncipe William com quatro jornalistas destacados (dois deles em Inglaterra) é de facto um rasgo de génio. Gostaria de saber quanto custou esta brincadeira que é, literalmente, para inglês ver. Perdem-se milhões nestas palermices gratuitas, mas para nos educarmos a sério, pagamos e bem!

Finalmente, gostaria de salientar que agora parte dos parques e palácios de Sintra são geridos por uma empresa de capitais públicos. Suponho que isto seja o factor determinante na mentalidade mercantil da cultura.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mensagem de 25 de Abril (mais vale tarde que nunca...)

Provavelmente, o Sentido Distintos será o único blogue que publica uma mensagem de 25 de Abril dois dias após a dita efeméride. Seja como for, ontem, ao ver a terceira e última parte do documentário "Maior que o Pensamento", dedicado ao saudoso e querido Zeca, lembrei-me deste vídeo, tomando agora a liberdade de me apropriar do seu conteúdo, como mensagem para o 25 de Abril de 2011. Como se sabe, o excerto data de 1984, sendo, portanto, coetâneo à comemoração dos 10 anos da Revolução. É assustador como a integralidade das palavras do Zeca se mantêm actuais, 27 anos depois da gravação desta entrevista...

Movimentos e movimentos

Movimento “Mais Sociedade” sugere que salários dos magistrados dependam do seu desempenho

O advogado Jorge Bleck gosta muito de "movimentos" (já veio o "compromisso portugal", agora é o "mais sociedade"). Gosta muito também de dar sugestões. E uma pessoa desprevenida, num primeiro impulso, pensa: Boa!

O advogado Bleck é também um quadro influente do PSD ( e que até está a ajudar a construir o magnífico programa eleitoral do PSD), é um advogado de accionistas do maior banco português, etc., etc.

É portanto, este "Dr." que nos apresenta sugestões para a melhoria da gestão da "Justiça", é ele que nos apresenta sugestões de adopção de uma certa moralidade relativamente aos dinheiros públicos.

O Sotôr ainda sugere, e completamente de forma desinteressada,  "abrir a carreira de juiz a advogados, professores de direito e juristas de reconhecido mérito. De acordo com Jorge Bleck, “todos os advogados com pelo menos dez anos de prática e mais de 32 anos de idade podem aceder ao cargo de juiz de um tribunal de 1.ª instância”."

As palavras a quem as diz. 
Não importa aqui, tanto, a falta de originalidade e seriedade da primeira proposta e o caricato da segunda proposta. Isso será para outras viagens.

Importa apreciar como o palco é orgulhosamente ocupado por este tipo de oradores, por este tipo de "representantes", por este tipo de "opinion makers".

E é apreciando, que nos apercebemos que o palco anda a ser ocupado por gente que nos transforma em surdos. Porque as palavras já não são ditas, são vomitadas. E não há pachorra para vómitos verbais.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

O inevitável é inviável: Manifesto dos 74 nascidos depois de 74

"Somos cidadãos e cidadãs nascidos depois do 25 de Abril de 1974. Crescemos com a consciência de que as conquistas democráticas e os mais básicos direitos de cidadania são filhos directos desse momento histórico. Soubemos resistir ao derrotismo cínico, mesmo quando os factos pareciam querer lutar contra nós: quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva recusava uma pensão ao capitão de Abril, Salgueiro Maia, e a concedia a torturadores da PIDE/DGS; quando um governo decidia comemorar Abril como uma «evolução», colocando o «R» no caixote de lixo da História; quando víamos figuras políticas e militares tomar a revolução do 25 de Abril como um património seu. Soubemos permanecer alinhados com a sabedoria da esperança, porque sem ela a democracia não tem alma nem futuro.

O momento crítico que o país atravessa tem vindo a ser aproveitado para promover uma erosão preocupante da herança material e simbólica construída em torno do 25 de Abril. Não o afirmamos por saudosismo bacoco ou por populismo de circunstância. Se não é de agora o ataque a algumas conquistas que fizeram de nós um país mais justo, mais livre e menos desigual, a ofensiva que se prepara – com a cobertura do Fundo Monetário Internacional e a acção diligente do «grande centro» ideológico – pode significar um retrocesso sério, inédito e porventura irreversível. Entendemos, por isso, que é altura de erguermos a nossa voz. Amanhã pode ser tarde.

O primeiro eixo dessa ofensiva ocorre no campo do trabalho. A regressão dos direitos laborais tem caminhado a par com uma crescente precarização que invade todos os planos da vida: o emprego e o rendimento são incertos, tal como incerto se torna o local onde se reside, a possibilidade de constituir família, o futuro profissional. Como o sabem todos aqueles e aquelas que experienciam esta situação, a precariedade não rima com liberdade. Esta só existe se estiverem garantidas perspectivas mínimas de segurança laboral, um rendimento adequado, habitação condigna e a possibilidade de se acederem a dispositivos culturais e educativos. O desemprego, os falsos recibos verdes, o uso continuado e abusivo de contratos a prazo e as empresas de trabalho temporário são hoje as faces deste tempo em que o trabalho sem direitos se tornou a norma. Recentes declarações de agentes políticos e económicos já mostraram que a redução dos direitos e a retracção salarial é a rota pretendida. Em sentido inverso, estamos dispostos a lutar por um novo pacto social que trave este regresso a vínculos laborais típicos do século XIX.

O segundo eixo dessa ofensiva centra-se no enfraquecimento e desmantelamento do Estado social. A saúde e a educação são as duas grandes fatias do bolo público que o apetite privado busca capturar. Infelizmente, algum caminho já foi trilhado, ainda que na penumbra. Sabemos que não há igualdade de oportunidades sem uma rede pública estruturada e acessível de saúde e educação. Estamos convencidos de que não há democracia sem igualdade de oportunidades. Preocupa-nos, por isso, o desinvestimento no SNS, a inexistência de uma rede de creches acessível, os problemas que enfrenta a escola pública e as desistências de frequência do ensino superior por motivos económicos. Num país com fortes bolsas de pobreza e com endémicas desigualdades, corroer direitos sociais constitucionalmente consagrados é perverter a nossa coluna vertebral democrática, e o caldo perfeito para o populismo xenófobo. Com isso, não podemos pactuar. No nosso ponto de vista, esta é a linha de fronteira que separa uma sociedade preocupada com o equilíbrio e a justiça e uma sociedade baseada numa diferença substantiva entre as elites e a restante população.

Por fim, o terceiro e mais inquietante eixo desta ofensiva anti-Abril assenta na imposição de uma ideia de inevitabilidade que transforma a política mais numa ratificação de escolhas já feitas do que numa disputa real em torno de projectos diferenciados. Este discurso ganhou terreno nos últimos tempos, acentuou-se bastante nas últimas semanas e tenderá a piorar com a transformação do país num protectorado do FMI. Um novo vocabulário instala-se, transformando em «credores» aqueles que lucram com a dívida, em «resgate financeiro» a imposição ainda mais acentuada de políticas de austeridade e em «consenso alargado» a vontade de ditar a priori as soluções governativas. Esta maquilhagem da língua ocupa de tal forma o terreno mediático que a própria capacidade de pensar e enunciar alternativas se encontra ofuscada.

Por isso dizemos: queremos contribuir para melhorar o país, mas recusamos ser parte de uma engrenagem de destruição de direitos e de erosão da esperança. Se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!"

Alexandre de Sousa Carvalho – Relações Internacionais, investigador; Alexandre Isaac – antropólogo, dirigente associativo; Alfredo Campos – sociólogo, bolseiro de investigação; Ana Fernandes Ngom – animadora sociocultural; André Avelãs – artista; André Rosado Janeco – bolseiro de doutoramento; António Cambreiro – estudante; Artur Moniz Carreiro – desempregado; Bruno Cabral – realizador; Bruno Rocha – administrativo; Bruno Sena Martins – antropólogo; Carla Silva – médica, sindicalista; Catarina F. Rocha – estudante; Catarina Fernandes – animadora sociocultural, estagiária; Catarina Guerreiro – estudante; Catarina Lobo – estudante; Celina da Piedade – música; Chullage - sociólogo, músico; Cláudia Diogo – livreira; Cláudia Fernandes – desempregada; Cristina Andrade – psicóloga; Daniel Sousa – guitarrista, professor; Duarte Nuno - analista de sistemas; Ester Cortegano – tradutora; Fernando Ramalho – músico; Francisca Bagulho – produtora cultural; Francisco Costa – linguista; Gui Castro Felga – arquitecta; Helena Romão – música, musicóloga; Joana Albuquerque – estudante; Joana Ferreira – lojista; João Labrincha – Relações Internacionais, desempregado; Joana Manuel – actriz; João Pacheco – jornalista; João Ricardo Vasconcelos – politólogo, gestor de projectos; João Rodrigues – economista; José Luís Peixoto – escritor; José Neves – historiador, professor universitário; José Reis Santos – historiador; Lídia Fernandes – desempregada; Lúcia Marques – curadora, crítica de arte; Luís Bernardo – estudante de doutoramento; Maria Veloso – técnica administrativa; Mariana Avelãs – tradutora; Mariana Canotilho – assistente universitária; Mariana Vieira – estudante de doutoramento; Marta Lança – jornalista, editora; Marta Rebelo – jurista, assistente universitária; Miguel Cardina – historiador; Miguel Simplício David – engenheiro civil; Nuno Duarte – artista; Nuno Leal – estudante; Nuno Teles – economista; Paula Carvalho – aprendiz de costureira; Paula Gil – Relações Internacionais, estagiária; Pedro Miguel Santos – jornalista; Ricardo Araújo Pereira – humorista; Ricardo Lopes Lindim Ramos – engenheiro civil; Ricardo Noronha – historiador; Ricardo Sequeiros Coelho – bolseiro de investigação; Rita Correia – artesã; Rita Silva – animadora; Salomé Coelho – investigadora em Estudos Feministas, dirigente associativa; Sara Figueiredo Costa – jornalista; Sara Vidal – música; Sérgio Castro – engenheiro informático; Sérgio Pereira – militar; Tiago Augusto Baptista – médico, sindicalista; Tiago Brandão Rodrigues – bioquímico; Tiago Gillot – engenheiro agrónomo, encarregado de armazém; Tiago Ivo Cruz – programador cultural; Tiago Mota Saraiva – arquitecto; Tiago Ribeiro – sociólogo; Úrsula Martins – estudante

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Os ateus. A páscoa.

Lembro-me do primeiro dia da escola primária. Lembro-me de não ir à catequese. A miudagem perguntava-me: és jeová? E eu perguntava de volta, o que é ser jeová?
Responderam-me que implicava não ir à catequese, e que eram esquisitos com a comida.
Ora, eu não ia à catequese, não era baptizada, e era vegetariana. Então fazia sentido na cabeça de uma miúda de 6 anos, que não percebia nada sobre religião. Só sabia a estória de Jesus. Contaram que tinha sido um gajo porreiro e que inspirava muitas pessoas.

Sempre causei choque/estranheza (por ser vegetariana desde sempre, por não ser baptizada e outros pequenos pormenores interessantes), a maior parte da minha vida sem perceber porquê. 


E o porquê desta introdução?  Sempre perguntaram: como festejas a páscoa? Ou melhor ainda,como festejas o natal?
São daquelas perguntas obrigatórias que surgem quando me apresento, mas que alguns que já me conhecem insistem em perguntar. Nos meus quase 26 anos, sou um autómato quando me apresento ou falo deste tema.

Os ateus, pelo menos aqueles que me orgulho de conhecer (nos quais está incluída a minha família), também festejam a páscoa, também festejam o natal. À sua maneira.

Chama-se confraternizar. Chama-se também querermos estar com quem gostamos, comermos o que gostamos, fazermos o que nos der na real gana, chama-se escolher. Para mim, é liberdade, o pequeno espaço de liberdade, de independência.

Respeitamos de forma mais séria muitos dos princípios morais que as religiões proclamam como sendo sua "propriedade exclusiva". Porque ser ateu também é um compromisso de honestidade, e acima de tudo é um compromisso de respeito na esfera individual/íntima e na esfera pública/colectiva.

Isto tudo para vos desejar uma boa páscoa, transmitindo que não importa o que nos auto-denominamos se não pudermos exercer a crítica e também a autocrítica. É não ter o princípio porque sim, porque é uma herança, é ter o princípio porque se lutou por ele. 

Boas festividades/confraternizações para todos!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Se a ignorância não é desculpa, a omissão/manipulação consciente dos factos não é desculpável.

Num texto publicado ontem no portal esquerda.net, Francisco Louçã e Mariana Mortágua denunciam, de forma determinante, os supostos defensores da “solução argentina” para a crise portuguesa. Na minha modesta opinião, a referida prosa é bastante esclarecedora e até educativa, pois, em política e economia, é sempre aconselhável conhecer o passado para agir no presente. De facto, fiquei convencido que, com todos os paralelismos que se possam estabelecer entre as duas crises, a “solução argentina” não é a resposta adequada às vicissitudes que enfrentamos. O papel progressivo do texto dos bloquistas é precisamente o de desmistificar o teor da “solução argentina” assim como o governo que a implantou.


Por outro lado, uma dúvida emergiu na minha consciência: mas, afinal, a quem é que o texto é dirigido? Valha a verdade, nunca falei com ninguém proveniente do campo político da esquerda que defendesse uma “solução argentina” para Portugal. Temo, além do mais, que a maioria dos esquerdistas não conheça, de forma tão aprofundada, os contornos reais da crise argentina, a da resposta política que ela impulsionou. Assim, de quem são os erros que Louçã e Mortágua apontam?


Existe a forte possibilidade que sejam os defensores da cessação/suspensão do pagamento da dívida externa portuguesa os visados pela prosaica invectiva dos bloquistas. Caso isto se confirme, estamos, desde logo, perante uma manipulação dos factos: o estabelecimento erróneo de um silogismo entre defensores da cessação do pagamento da dívida externa e os defensores da “solução argentina”. Como já referi acima, são escolhas políticas diferentes, e nem eu conheço nenhum sector político da esquerda que defenda a “argentinização” da crise portuguesa ou europeia. São casos diferentes, com especificidades justamente apontadas por Louçã e Mortágua.


Depois, e, repito, caso se confirme que o texto é dirigido aos defensores da cessação do pagamento da dívida externa, os seus autores incorrem numa dupla manipulação retórica, desta vez, através da omissão: penso que nenhum sector político da esquerda apresentou a cessação do pagamento da dívida externa como uma medida isolada, muito menos como uma panaceia para todos os males. Parece que Louçã e Mortágua se esqueceram disto, de forma bastante conveniente para o seu discurso. Na verdade, a cessação do pagamento da dívida externa teria de ser, forçosamente, uma pequena parte de uma total alteração do paradigma político actual. Uma inversão de 180º na resposta a dar à crise da agiotagem. Qualquer pessoa sabe que a cessação do pagamento da dívida externa por si só, sem qualquer outra medida complementar, seria o descalabro para as contas do estado e, consequentemente, para a vida real das pessoas.


A cessação do pagamento da dívida externa só faz sentido caso seja parte do todo, e não o todo per se. Terá, obrigatoriamente, que incorporar um pacote de medidas inerentes a uma política anti-capitalista. Primeiro que tudo, a resposta teria de ser concertada entre os países mais frágeis da UE, ou seja, os chamados PIGS teriam de "bater o pé", no dizer da nossa Sofia Gomes. Depois, no caso de Portugal, teria de avançar com medidas como a nacionalização da banca, para o estado não ficar dependente dos usurários; a nacionalização dos sectores centrais da economia, para reforçar o investimento público e a queda do desemprego; o reforço da produção nacional, para impulsionar a exportação de mercadorias e equilibrar a balança comercial; a taxação das grandes fortunas e da bolsa de valores; o restabelecimento da soberania portuguesa no tocante à política monetária; uma reindustrialização efectiva do país; revogação das PPP’s lesivas para o estado; o fim dos offshores, e um longo etc.


Ou seja, caso se avançasse com a suspensão ou cessação do pagamento da dívida externa, teria que se garantir que o estado não ficaria dependente dos agiotas, como sucede neste momento, e tivesse outras fontes de financiamento, ou seja, ir buscar a riqueza onde ela está concentrada. Digamos que é uma política mais próxima “solução islandesa”, ressalve-se as especificidades, a qual o BE tanto saúda, mas não tem coragem de defender para o nosso país. Ignoro o porquê de aqueles “pormenores” serem omissos, mas, se a ignorância não é desculpa, a omissão/manipulação consciente dos factos não é desculpável.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Um alerta da Finlândia


A ascensão dos resultados eleitorais da extrema-direita finlandesa, cujo partido responde pelo pomposo nome de Perussuomalaiset ("Basicamente Finlandeses", ou melhor, "Finlandeses Básicos", que é como eu descreveria tal fauna), é um alerta para todos os europeus. Não auguro nada de bom dali. Não devido ao seu particular cepticismo em relação ao empréstimo a Portugal, que de benéfico também não tem nada, mas sobre as respostas políticas que esta crise tem vindo a originar nos diversos países, neste caso, a Finlândia.

A Finlândia é um dos bastiões da social-democracia, um país no qual eu encontro um modelo no que toca ao acolhimento institucional dos imigrantes, à tolerância para com as minorias e com índices altos de igualdade social. Um país que me recebeu e me surpreendeu com o seu civismo. Um país onde as pessoas pagam impostos elevados, mas têm serviços sociais dignos para toda a população. A título de exemplo: todos os estudantes finlandeses têm bolsas, assim como todos os desempregados têm um subsídio de desemprego. Obviamente que, no entendimento do típico e mesquinho português, tal acessibilidade a direitos mínimos é uma impossibilidade utópica, devido aos mandriões que por aí grassam. Seja como for, nunca é suficiente realçar que "todos" podem auferir estas garantias de dignidade.


Com a crise, ou ainda um pouco antes, a usual filosofia de miséria atacou a Finlândia. Verificou-se, então, o ocaso da social-democracia, o arrivismo dos tecnocratas e economicistas gananciosos, aqueles que ditam o "fim das ideologias" apenas para aplicar as suas ideias, devidamente mascaradas, de uma sociedade mais injusta e marcada pelo "salve-se quem puder" permanente. Tudo em nome do crescimento e da competitividade, entenda-se. Enfim, uma trupe em tudo similar àquela que povoa os centros de decisão deste nosso luso cantinho.


Foi a desilusão com esta realpolitik que levou ao crescimento dos Perussuomalaiset. Digo isto antes que venham os profetas da desgraça apontar o dedo ao caso finlandês como prova que, afinal, não é possível um paradigma económico-político um bocadinho melhor que o nosso. A razão para o crescimento deste partido radica não tanto na sua ideologia, mas no seu discurso, pontuado com uma marca muito própria, deixando de lado o "politicamente correcto", arrancando a política do campo da tecnocracia e do economicismo e apelando à irracionalidade do pensamento. Como se sabe, em contextos de crise e descren
ça geral no modus operandi político, tal arrazoado sempre obtém os seus resultados.

Como já tinha dito em outras conversas, este resultado não representa o povo finlandês que eu conheci. Um povo aberto a pessoas de outros países, culturas e religiões. Um povo que não concebe a desigualdade social como um fenómeno inevitável, não entende o desamparo dos mais vulneráveis como algo fatal, a xenofobia como um sentimento entendível nem categoriza minorias sexuais como uns doentes crónicos. Nestas questões, os finlandeses continuam a estar léguas à frente dos nossos portugueses. Não sinto o mínimo orgulho ao afirmar isto, mas é a mais pura das verdades. Esperemos que as coisas não descambem por lá também..

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ah, queridos líderes!

SONAE, EDP e PT são consideradas as melhores escolas de líderes

Mais uma notícia, de muitas que nos surgem todos os dias, ou não estivéssemos numa economia de mercado (a que eu prefiro chamar selva), sobre líderes, e a sua grande importância de os ter.

Segundo o Priberam, líder significa:
Pessoa que exerce influência sobre o comportamento, pensamento ou opinião dos outros;
Pessoa ou entidade que lidera ou dirige;
Chefe de um partido ou movimento político;
Que ou o que lidera determinado sector! de actividade! ou uma competição.

Vivemos constantemente a receber a mensagem de que sem líderes estamos perdidos. Sem pastor estamos perdidos. É o fim do mundo civilizado.
Dá-me logo vontade de, também aqui, pegar no dicionário e debitar o que significa "civilizado", o que significa "civilização".

O termo "civilizar" surge muitas vezes nestes contextos, os contextos dos líderes. Quem civiliza? Quem sabe o que é civilização? São os líderes.

Quantos de nós os ouve, os escuta, na verdade? Quantos de nós não está agarrado à ilusão de que ter líderes é o melhor para nós e sinal de progresso, de avanço? Esta situação só me traz à lembrança a situação de relações abusivas.

Da mesma forma de que, na nossa vida privada, podemos ser vítimas de comportamentos abusivos por parte de indivíduos que "gostam de tomar a liderança". 
Somos também vítimas, há demasiado Tempo, de comportamentos abusivos enquanto colectivo que somos. Somos alvo dos líderes empresariais, somos alvo de líderes religiosos, e acima de tudo, a Maestrina dos líderes, da nossa "democracia" representativa.
Ora, atinjamos a verdadeira "civilização" construindo uma sociedade sem líderes, uma sociedade que não seja a selva da economia de mercado, uma sociedade em que não temos de estar sempre a sentir pena daqueles que não são líderes, e que por isso são fracos, precisam de caridade, de maternalismo/paternalismo. Uma sociedade no verdadeiro sentido do termo, em que estamos todos, e construímos todos com verdadeira igualdade.

Chega de nos venderem "banha da cobra", meus senhores! Nós sabemos pensar, sabemos construir, sabemos o que queremos. E a primeira coisa que vos temos a dizer, senhores líderes, é: não precisamos de vós para nada. 
Je ne vous aime pas.

A História Repete-se?

Há outros que já escreveram (melhor) sobre o que se passa hoje em dia. Desafio-vos a dizer a que período do século XX se referem os seguintes excertos:

«A história da economia mundial desde a Revolução Industrial fora de acelerado progresso técnico, de crescimento económico contínuo mas irregular e de crescente "globalização", ou seja, de uma divisão mundial cada vez mais elaborada e complexa de trabalho.

«(...) Um impressionante e crescente desequilíbrio na economia internacional, devido à assimetria de desenvolvimento entre os EUA e o resto do mundo.

«O que tornava a economia tão mais vulnerável a esse boom de crédito era que os consumidores não usavam os seus empréstimos para comprar os bens de consumo tradicionais, que mantêm corpo e alma juntos, e têm portanto muito pouca variação (...) os consumidores compravam os bens supérfluos da sociedade de consumo moderna em que os EUA, mesmo então, já estavam a entrar.

«Economistas que aconselhavam que se deixasse a economia em paz, governos cujo primeiro-ministro, além de proteger o padrão-ouro com políticas deflacionistas, era apegar-se à ortodoxia financeira, aos equilíbrios de orçamento e à redução de despesas, visivelmente não tornavam melhor a situação

Eis a solução:

«Aqueles de nós que viveram os anos da GRande Depressão ainda acham quase impossível compreender como é que as ortodoxias financeiras do puro mercado livre, na época tão completamente desacreditadas, vieram mais uma vez a presidir a um período global de Depressão em fins de 80 e 90, que, mais uma vez, foram igualmente incapazes de entender ou resolver. Mesmo assim, esse estranho fenómeno deve lembrar-nos a grande característica da história que ele exemplifica: a incrível memória curta dos economisas teóricos e práticos.

«O que era uma "economia de mercado livre" numa época em que economia era cada vez mais dominada por imensas corporações que tornavam absurdo o termo "competição perfeita"?

«O fortalecimento da direita radical foi reforçado, pelo mesmo durante o pior período da Depressão, pelos espectaculares reveses da esquerda revolucionária. (...) O resultado imediato da Depressão, pelo menos na Europa, foi exactamente o oposto do que os revolucionários sociais tinham esperado.

«Provavelmente nada demonstra mais a globalidade da Grande Depressão e a gravidade do seu impacte do que essa rápida visão panorâmica dos levantamentos políticos praticamente universais que ela produziu num períodos medido em meses ou em anos isolados

Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos - História Breve do Século XX (1914-1991)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Na continuação da Saga "Que venham muitos revolucionários de sofá (e os dos fetiches também)!"

No contexto de uma posta anterior do Camarada Tiago Silva Que venham muitos revolucionários de sofá (e os dos fetiches também)! , senti que,seria bastante apropriado partilhar o novo paradigma dos media, e por consequência toda uma nova forma de comunicar.

Ser Revolucionário também implica saber utilizar as melhores formas de comunicar, implica respeitar a forma como o público em geral prefere informar-se, implica perceber todo um novo conceito no sentido de verificar as suas enormes potencialidades.

Neste sentido, convido-vos a viajar por esta interessante e esclarecedora apresentação:


quarta-feira, 13 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

MANIFESTO EM PROL DA SEMENTE E DA SOBERANIA ALIMENTAR - Pela Associação Colher para Semear




"Não se sabe bem ao certo, mas terá sido há dez ou onze mil anos que a humanidade lançou à terra as primeiras sementes com o intuito de colher algo para seu sustento. Dessa colheita terão resultado, por certo, não apenas alimentos imediatos, mas também novas sementes, que tornariam a ser semeadas no ano seguinte. Ficou assim traçada a orientação que viria a assegurar, até há algumas dezenas de anos atrás, a capacidade de todos nós, homens e mulheres, conseguirmos ultrapassar as contingências da natureza, deixando de estar sujeitos à sua aleatória generosidade no tocante à oferta de alimentos colectáveis, passando a cultivá-los para assegurar a soberania alimentar.
Passados alguns milhares de anos de evolução desta orientação de vida, foram sendo domesticadas pelo homem milhares de variedades de plantas e animais, ampliando muito as espécies disponíveis. Esta diversidade de espécimes de cultivares e de animais, fomentada pelo homem, muitas vezes como resultado do seu engenho, permitiu-lhe transpor as mais diversas barreiras, físicas e temporais, para conquistar os mais recônditos lugares do planeta. Hoje sabemos, pelos muitos factos históricos conhecidos, que em cada novo contacto do homem com diferentes plantas e animais ocorre não apenas um enriquecimento do indivíduo enquanto ser cultural, mas também uma melhoria no seu ser físico, graças ao acesso a acrescidas fontes de alimentos.
Estas longas conquistas da humanidade estão agora prestes a ser eliminadas ou, pelo menos, restringidas, pois outros interesses se levantam. A pretexto de questões como a necessidade de rastrear o percurso dos alimentos e a segurança alimentar, a Comunidade Europeia prepara-se para estabelecer uma directiva legal no sentido de impedir que as pessoas que sempre semearam e recolheram, assegurando a sua soberania alimentar, possam continuar a agir dessa maneira. Esta lei põe em causa um direito ancestral conquistado para todos nós, o de utilizarmos e guardarmos as sementes resultantes do trabalho e engenho dos nossos antepassados, direito esse que devemos continuar a legar às gerações futuras. Esta lei pretende atribuir estatuto museológico às variedades tradicionais que nos foram legadas por incontáveis gerações, enraizando-as no seu suposto lugar de origem e impondo que a sua comercialização e cultura, bem como o aproveitamento das suas sementes, se faça apenas nesse local e somente por alguns. Esta lei europeia, a ser aprovada, limita as áreas de cultivo e o número de pessoas que podem aceder às variedades tradicionais, as quais só terão direito a existir depois de submetidas a certificação. Não se entende como uma Europa que defende os valores da democracia, do livre acesso a bens e da sua livre circulação, pretende assim limitar o acesso de todos nós a este legado das sementes ancestrais.
No caso em apreço, podemos estar mais uma vez perante uma mentira. Quais são os verdadeiros interesses que estão por trás destas leis restritivas da Comunidade Europeia? Na verdade, por trás de palavras como «certificação», cujo sinónimo deveria ser autenticidade ou segurança, esconde-se muitas vezes a restrição no acesso a um direito, que fica, a partir daí, apenas ao alcance de quem pode pagar ou tem mais meios. A certificação significa, para uma Europa ávida de dinheiro e com uma economia em ruínas, a entrada de mais dividendos nos seus cofres.
Com efeito, se a semente não fosse «a origem», não seria tão aliciante querer controlar os seus destinos. A pressão que nos últimos anos vem sendo exercida por algumas multinacionais do sector da agro-indústria, as quais, não satisfeitas com o domínio que já exercem através das patentes das suas «criações», procuram também apropriar-se das plantas que são património comum da humanidade estabelecendo patentes sobre as variedades ancestrais, revela a urgência imperativa de controlarem a distribuição dos alimentos desde a origem até à nossa mesa.
Na verdade, não se percebe como é possível permitir que alguém, pessoa ou empresa, registe em seu nome algo que não criou e se torne seu «legítimo» proprietário. Não se percebem estas leis europeias com dois pesos e duas medidas, a não ser, repetimos, porque o registo de patentes constitui mais uma fonte de receitas para os cofres das instituições que as pretendem impor. Mas é evidente que corremos sérios riscos quando as sementes das variedades tradicionais, que são património da humanidade e como tal devem estar livremente acessíveis a todos, passam a ser objecto de controlo estatal para ficarem nas mãos de entidades exclusivas.
Poderemos estar prestes a assistir à consumação do maior atentado cometido na história das civilizações humanas, em que alguns homens, com as suas leis, põem em causa a sobrevivência da maioria. Porque é disso que se trata quando se pretende reduzir drasticamente o número de variedades e obrigá-las a permanecer imóveis nos seus supostos locais de origem, parando assim a sua e a nossa evolução.
Perante a possibilidade de ser aprovada a nova Lei das Sementes na Europa, declaramos ser nossa intenção continuar a fazer o que sempre fizemos: lançar as sementes à terra, recolhê-las no fim da estação, guardar algumas para o ano seguinte e partilhar outras com amigos, vizinhos e interessados. Achamos que esta será a melhor forma de resistir, pois foi a postura que os nossos antepassados mantiveram ao longo de milénios e que, apesar das muitas hecatombes a que a humanidade se viu sujeita ao longo da sua existência, não impediu que chegasse até nós um sem número de espécies e variedades. É certo que muitas se perderam ao longo desse percurso, mas isso aconteceu mais por desinteresse ou por abandono da actividade agrícola do que por qualquer lei impeditiva. Esta será sempre a nossa principal linha de acção. Se não assumirmos esta postura, será difícil reclamarmos o direito a usar e guardar as sementes, pois só isso permite que elas continuem a existir.
Instigamos todas as pessoas favoráveis à permanência das variedades tradicionais que nos sigam no exemplo e resistam, mesmo que a referida lei venha a ser aprovada. Por ser também da máxima importância usá-las no nosso dia-a-dia, instigamos todos os interessados a conhecer melhor este espólio, solicitando-o nos pontos de venda, estimulando a sua oferta e consumo.
A Colher para Semear vai levar a cabo uma iniciativa de âmbito nacional, no dia 17 de Abril, em Lisboa, no Parque Eduardo VII, pedindo a todos os interessados que se desloquem à capital para trocar as suas sementes e manifestar o seu apreço pelo direito à existência das variedades tradicionais como um legado da humanidade."

Associação Colher para Semear

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sangrias e economia

À medida que leio notícias sobre o pacote de austeridade a ser negociado com o UE-FMI, só me ocorre uma imagem: a do ser humano moribundo após sucessivas sangrias.

A sangria era uma prática utilizada no passado e, ao contrário do que acontece hoje, pensava-se que podia curar qualquer mal. São frequentes as imagens nos filmes em que se vê o médico a perfurar uma veia no braço do paciente deixando escorrer sangue para um alguidar de louça. Ora, frequentemente, este tratamento matava mais do que curava. Além de os instrumentos utilizados não serem esterelizados, o paciente era enfraquecido sendo mais dura a luta contra a doença que afectava. Acutalmente, este sistema é ainda utlizado mais em situações muito pontuais e em condições completamente diferentes.

A partir desta pequena explicação, torna-se óbvio o que quero dizer. O tratamento de austeridade a que provavelmente este país vai ser submetido, vai provocar uma sangria incapacitando-nos por sabe-se lá quanto tempo de lutar contra a doença económica que nos aflige. Privatizações, desregulamentação do mercado de trabalho e aumento da carga fiscal, vai colocar-nos em estado terminal. E é como se estes 'médicos' ensimesmados não percebessem que a sangria até aqui aplicada resultou numa enorme e dura crise e, na tentativa de curá-la, vão usar os mesmos métodos. Claro fica que isto é impossível, irresponsável e até criminoso pois agem deliberadamente e ciente das consequências nefastas para as pacientes.

Portanto, se não queremos acabar na morgue, o povo deste país precisa de se mobilizar e encontrar outro remédio para o nosso mal. Neste blog já foram deixadas algumas pistas: manifestações, greves e ocupações. A longo prazo, controlo por parte dos trabalhadores de alguns meios de produção e nacionalização de sectores estratégicos.

Sobre a proibição da burqa na França

Este pretenso civismo faz-me impressão. O Governo francês já demonstrou que o velho chavão Liberté, Égalité, Fraternité há muito que foi arrumado na arrecadação e neste momento não passa de uma ternurenta recordação dos tempos idos, quando países se fundavam em ideais humanistas.

Agora, contornam habilidosamente um pressuposto constitucional, o da livre expressão religiosa, para impor uma restrição profundamente anti-islâmica: a proibição da burqa. Dissequemos esta bela ideia:

a) A máscara cívica:

- por um lado, advogando os direitos das mulheres como justificação primeira. Enquanto que sim, podemos dizer que há repressão feminina em sectores conservadores do islamismo (assim como em todo o conservadorismo abrâamico), este argumento é falso pois apenas remete para a reclusão as mulheres pretensamente vítimas dessa violência (digo pretensamente pois só em estudo de caso se pode verdadeiramente passar à acusação grave), escondendo o problema e impedindo a acção dos agentes mediadores que poderiam trabalhar na inclusão da diversidade; ao mesmo tempo que, na linha do que disse antes, remete para a burqa toda a simbologia da repressão de mulheres, expiando esse demónio (ignorando problemas de representatividade maior do que duas centenas de pessoas) e também, em consequência, reprimindo aquilo que, não esqueçamos, é expressividade cultural operando, assim, uma leve forma de repressão feminina!

- por outro lado, a laicidade do Estado como justificação. Vejamos uma coisa: um Estado laico não é, forçosamente, anti-religioso. Aliás, são duas dimensões que não se cruzam - daí a própria constituição não permitir ao Estado arbitrar sobre a expressão religiosa de algum culto. Discutirei mais abaixo a questão institucional.

b) O modelo vigilante: argumenta-se que as pessoas que apareçam de cara tapada serão identificadas (sendo desta forma que dão a volta à proibição constitucional que indirectamente violam). Discorrer pernicioso! O que aconteceu ao "inocente até prova em contrário"? E se eu usar barba, tenho de a cortar? Sou identificado na rua, independentemente da legalidade ou ilegalidade dos meus actos? O que aconteceu à liberdade de circulação?

Ah, respondem, mas afirmam que "a lei não se aplica dentro dos carros pessoais ( já houve uma francesa interpelada por estar a conduzir de véu) e que continua a ser permitido cobrir a cara com capacetes, ligaduras, máscaras de soldador, máscaras de esgrima e disfarces de Carnaval." (cf artigo) Ou seja, não há problema! É muito menos suspeito andar na rua de máscara de esgrima! Quem não confiará num tipo desses? Ou um soldador, a passear pelo banco, a medir o cofre. Tenham juízo, não me emprenhem pelos ouvidos.

c) O descaramento racista, que outro nome não tem, desta lei. Pois, como se observa no artigo do Público, «“é estúpido fazer uma lei para 150 pessoas”, como explicou à Associated Press, num texto publicado pelo Nouvel Observateur. Calcula-se em menos de 200 as mulheres que usam burqa em França,». Sim, é estúpido. É, também, medo do islâmico, porque de outra forma não se compreende uma proibição a nível nacional porque 200 pessoas andam de cara tapada.

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Levantam-se muitas questões pertinentes por este assunto. Quero falar de uma delas aqui, que tem a ver com o funcionamento institucional do Estado e a proibição de elementos religiosos em espaços de uso institucional público (repartições, escolas, hospitais).

Eu sou, à partida, a favor da ideia que o aparelho de um Estado laico deve ser despido desta simbologia. Por uma lógica de coerência, também por uma questão prática: não podemos sarapintar as paredes com toda a sorte de cruzes e estrelas e planetas e animais que agrade a todos. No entanto, aquilo que diz respeito ao espaço individual, privado, não deve estar sob este escrutínio estatal: assim sendo, não me incomoda, por exemplo, que um aluno vá para as aulas de crucifixo, ou de taqiyah, em princípio.

Há, no entanto e necessariamente, normas de conduta obrigatórias ao bom funcionamento institucional. A instituição moderna é assim: obriga a separações e a regulamentações eficazes. Daí que me pareça, abstractamente, fazer sentido que um professor não queira uma aluna de burqa na aula, porque isso o pode impedir a necessária identificação. Por exemplo.

No entanto, meus amigos, estas são questões que surgem localmente. Como qualquer professor, ou médico, pode dizer, trabalhar em contextos locais obriga a adaptações. Obriga, também, a que a instituição aja para além da sua fisicalidade, em contacto directo com as populações locais, em contexto. Se existe algum impedimento, por exemplo e neste caso, de uma prática religiosa poder entrar em conflito com algum parâmetro de funcionamento normal do Estado, essa questão tem que ser negociada, localmente, entre os agentes da instituição e os visados. No caso da burqa, teria que haver um diálogo entre a escola e os pais, ou agentes de poder da comunidade islâmica local (a haver), de forma a encontrar uma situação óptima que não lese ambas as partes. Como de resto se faz, todos os dias, em todo o lado em que haja gente sensata.

O que nunca pode haver é leis estúpidas, arbitrárias e controleiras. As coisas resolvem-se com diplomacia e entendimento.

sábado, 9 de abril de 2011

Primeiro passo para derrotar Passos e Sócrates

O que mudou após o encontro de ontem entre as direcções do BE e do PCP?

Bem, antes de mais, ouvi e li reacções desiludidas de muitos entusiastas da convergência entre os dois maiores partidos da esquerda. Acho que é importante ser crítico, estar atento, mas não ser totalmente negativista.

Assim, vejamos primeiro o que consideramos positivo, à saída da reunião de ontem:

1) BE e PCP sentaram-se à mesa e discutiram a convergência. Isto é um salto de tremenda importância, face ao sectarismo recíproco que afecta tanto um como o outro partido. Ai de quem falava de uma convergência com o PCP, nas convenções do BE! Não posso falar por experiência própria em relação ao PCP, mas depreendo que não estivessem mais abertos ao diálogo.

2) Depois, os dirigentes convergiram no tocante à necessidade de um governo de esquerda, que solucione o défice social do país, promova emprego e a produção, faça frente aos agiotas e promova o desenvolvimento económico e social, preservando a soberania da república. Constataram também, e isto não é de menor importância, que outras forças e sectores políticos de esquerda, assim como os independentes, deveriam participar nesse governo.

Foram estes, na minha perspectiva, os dois grandes avanços desta reunião. No entanto, como já disse, devemos ser críticos e estar atentos, de forma a que temos de realçar também o que não foi tão positivo.

A meu ver, a convergência deveria ter lugar ainda antes das eleições, ou seja, durante a campanha eleitoral, através da apresentação de uma plataforma eleitoral, sustentada num programa comum de governo. Ora, tal não aconteceu. Como sabemos, existe uma grande fatia de votos que acabam por ser entregues ao PS devido ao pernicioso argumento do "voto útil". Desenganem-se se acham que isso não vai acontecer de novo. De certeza que vamos ter, de novo, os PS's a vociferar aos quatro ventos: "Apre, que vem aí o Passos! Se nós fomos duros, imaginem como será um governo PSD, com um presidente PSD! Votem em nós, porque nós temos condições, de facto, para formar governo!"

Portanto, se BE e PCP avançassem coligados, seria muito mais fácil rebater esta argumentação e tenho a certeza absoluta que muitos votos "tradicionais" do PS iriam ser dirigidos para a coligação da esquerda anti-capitalista. De qualquer forma, o caminho está a ser trilhado. Esperemos que as direcções do BE e PCP correspondam às expectativas que as massas depositam nelas. Esperemos que a convergência se concretize nos actos e que tenhamos em breve um governo de esquerda. Esperemos, ainda que a esperança num futuro risonho seja cada vez menor...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Maquiavel em Bruxelas" - Considerações sobre o exercício do "Lobby" no Parlamento Europeu

Recentemente, e no âmbito de uma formação, fui confrontada com o fenómeno do exercício do "Lobby" no Parlamento Europeu.

Primeiro, a actividade de "Lobby", neste contexto, é algo que se distingue do que estamos habituados a conhecer. Quando falamos em "Lobby" em Portugal, falamos de algo que não é público e normalmente extremamente prejudicial para o interesse público. O "Lobby" na União Europeia é-nos apresentado como, e principalmente, uma actividade transparente. Mas será que serve o interesse público dos povos da União Europeia?

Na prática, quando os deputados europeus fazem o seu intervalo, os representantes de certas empresas/grupos/ONG's, profissionais de Relações Públicas, abordam-nos no sentido de exercer pressão sobre os grupos parlamentares, é toda uma ciência (a título de exemplo podem ver em "Como Fazer Lobby").

Em 2006, foi criado o “Green Paper on a European Transparency Initiative”, oferecendo mais "transparência" e regras definidas para os 15 mil "Lobbistas", ONG's e outros grupos que pretendem influenciar os decisores da U.E. O tema foi debatido em audiências públicas.

Clarifiquemos o que se entende por "Lobby" nestes meios. Consiste, basicamente, em acções iniciadas por um representante ou um grupo para influenciar a opinião de um representante ou um sector do governo em prol de apoio a sua tendência/causa -que é o "Lobby". 
Exige uma construção de uma estratégia de argumentação com o objectivo de defender uma tendência/causa - que é a “Advocacy”.  As técnicas são apuradas e estudadas e assim praticadas com base no conhecimento de relações institucionais ou relações públicas. 

É algo que já conta com muito Histórico e importado da cultura anglo-saxónica. 

O "Lobby" nos EUA é regulamentado pela “Federal Regulation of Lobbying Act of 1946″. 
Esta Lei foi actualizada em 1995 devido ao despoletar  de uma grande crise ética, que envolveu alguns membros e vários funcionários do Congresso e do Executivo, um dos quais o "Lobbista" Jack Abramoff, o centro do escândalo de extensiva corrupção em Washington. 

Ainda nos EUA, muitos municípios têm legislações próprias, que dão "transparência" às relações com o poder. 

Ora, no âmbito da U.E. já temos vozes críticas e organizadas, que denunciam: "Thousands of corporate lobbyists roam the corridors of power in Brussels. Operating out of the spotlight, many of them do not hesitate to employ improper methods: pretending to be concerned environmentalists, scaremongering the EU into inaction, or securing privileged access to EU decision-makers. These underhand tactics have allowed corporate lobbyists to continue for-profit lobbying at the expense of more climate- and consumer-friendly regulation; putting profits before people and the planet." Neste contexto, criaram os Worst Lobbying Awards.
Não sabemos até que ponto a crítica e a organização apresentará uma verdadeira alternativa, será algo a descortinar.

Em Portugal, temos uma única Consultora dedicada a esta actividade, a qual podem conhecer através do seu sítio: http://www.eupportunity.eu/


Eu questiono. Não estamos, nós cidadãos comuns, a deixar avançar uma prática que nos vai continuar a deixar alienados de questões que devem ser nossas, que nos afectam no dia-a-dia? Não é isto mais uma forma de nos dizer que não temos poder de decisão em matérias de interesse público? A manipulação só se torna mais refinada e justificada.

Será que existe espaço, numa perspectiva socialista e portanto de uma diferente U.E., para o exercício do "Lobby"? À primeira abordagem, respondo que não. 

* A imagem que acompanha este "post" diz respeito à "bíblia" do como fazer "Lobby" em Bruxelas. Já vai na 2.ª Edição, uma vez que a actividade implica refinamentos/actualizações, tendo em conta a evolução da própria estrutura institucional da U.E.