segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As mulheres, a desigualdade de género, a invisibilidade histórica e a biodiversidade

As desigualdades de género no mundo rural têm sido assinaladas como das mais cruas e duras realidades nas relações sociais que afectam a sociedade e em especial as mulheres, cuja invisibilidade histórica levou a que a sua própria existência como sujeitos apenas começasse a ser reconhecida no último quartel do século XX. Até agora, apesar de teoricamente terem sido adoptadas políticas significativas nas mais distintas esferas, na prática a discriminação no mundo campesino e no da alimentação mantém-se quase intacta, especialmente porque as mulheres não são consideradas como «agentes económicos» nem como produtoras de conhecimentos, nem tão-pouco como sujeitos com direitos sociopolíticos integrais.
Na História produzida pelo pensamento dominante, pelos valores dominantes que continuam a desvalorizar a importância da mulher na comunidade, o papel das mulheres tem sido ingrato. As mulheres são discriminadas como agricultoras, e enquanto trabalhadoras são duplamente prejudicadas. A questão não reside numas pretensas leis da natureza, como nos fazem crer, mas sim nos conceitos fictícios e puramente sociais segundo os quais é extremamente vantajoso que tal situação permaneça inalterável para o grupo dominante. As agricultoras, ou trabalhadoras rurais, vêem-se perante várias dificuldades «oficiais»: para além de terem a seu cargo o trabalho rural, ao fim do dia são «responsáveis» pelo chamado «trabalho doméstico», realidade a que costuma chamar-se «dupla jornada de trabalho».
Na oportunidade que tive de me deslocar a um encontro de mulheres agricultoras vindas de todo o mundo (Marcha Mundial das Mulheres, realizada na Galiza em Outubro de 2008), pude comprovar, através dos vários testemunhos, que apesar de a realidade da mulher ser diversa a nível mundial, ela continua a ser constituída por pontos convergentes. É difícil, para todas, serem reconhecidas como detentoras de direitos básicos. Lembro-me perfeitamente do testemunho de uma agricultora espanhola, ou «campesina», como preferem dizer, que apelou à exigência de direitos básicos concretizados na lei fiscal. Com efeito, no casal, as mulheres não são reconhecidas como agricultoras, são-no apenas os homens, devendo elas estar sempre acompanhadas do homem para beneficiarem de direitos fiscais indirectamente.
Quando falamos na dignidade da mulher enquanto pessoa, enquanto trabalhadora rural, mais sensível o assunto se torna. Os testemunhos de mulheres vindas da América do Sul e de vários países do continente africano manifestaram uma força e uma dignidade que nunca são apresentadas publicamente. Estas mulheres lutam, dia após dia, contra o esquecimento e a indiferença a que a sua situação é votada. Lutam contra os atentados à sua dignidade, sendo muitas delas silenciadas brutalmente e continuando outras a lutar mesmo correndo o risco de serem as seguintes na lista das «silenciadas».
Muitas também denunciaram o facto de as multinacionais, através do registo de patentes, se apropriarem do seu conhecimento ancestral relativo às práticas agrícolas, nomeadamente a selecção e produção de sementes, património inestimável e factor decisivo para a preservação da tão importante biodiversidade. Muitas agricultoras cuja actividade não se insere na «agricultura industrial» vêem-se abordadas por «investigadores» contratados por multinacionais, designadamente a Nestlé, e levadas a partilhar os conhecimentos de que são guardiãs legítimas, verificando-se mais tarde que esses conhecimentos são objecto de registos de propriedade. Depois, para cúmulo, essas guardiãs encontram-se confrontadas com a obrigação de pagar direitos às multinacionais que se apoderaram dos seus conhecimentos.
Um estudo recente, realizado na Ásia, veio sublinhar a importância da biodiversidade na agricultura praticada nos nossos dias, mostrando, por exemplo, que 60 hortas de uma mesma vila continham 230 espécies de vegetais diferentes, variando a diversidade de cada horta entre 15 a 60 espécies. Na Índia, as mulheres utilizam 150 espécies diferentes de plantas para a alimentação humana e animal e para os cuidados com a saúde. No Bengala Ocidental existem 124 espécies de plantas silvestres que são colhidas nos arrozais e têm importância económica para as agricultoras. No estado de Veracruz, no México, as camponesas utilizam cerca de 435 espécies de flora e fauna silvestre, das quais 229 são comestíveis[†].
Em virtude da acumulação de conhecimentos relativos à prática agrícola, à previsão produtiva, ao processamento e distribuição, as mulheres, ainda em contextos de pobreza extrema, alimentam a humanidade e mantêm padrões de consumo congruentes com os cuidados a ter com a terra e com a colectividade. Não obstante, quando chega o momento da definição das políticas agrícolas e alimentícias, essa será uma consideração de último alcance, porque no mundo do rei mercado elas mantêm apenas o domínio de 1 % das terras agrícolas.
Mas nem sequer é preciso ir muito longe, porque em Portugal também se tenta pôr em causa essa dignidade. Quem fala em direitos das mães trabalhadoras rurais? Quem fala em direitos básicos, que abrangem os homens agricultores mas nunca referem a mulher? Segundo consegui apurar, só em 2009 se começou a falar em licenças de maternidade para as mulheres trabalhadoras rurais, agricultoras, campesinas. As agricultoras (assim como as advogadas) começam a ter direito a três meses de licença de maternidade. Apesar de ser um direito adquirido oficial, isto significa que ele ainda as diferencia relativamente às outras trabalhadoras, visto terem menos tempo de licença (três meses em vez dos quatro meses habituais).
Convém ressalvar que não se pretende pôr as mulheres contra os homens. O verdadeiro inimigo que temos pela frente ataca mulheres e homens, é todo um sistema económico que cria falsas ideias para justificar o modelo de exploração implantado. O que se almeja não é aquela igualdade que costuma ser ridicularizada. É a ideia básica da igualdade, tendo sempre em conta a medida da diferença. Por isso, aplaudo a mulher que bate o pé e diz um forte «não» quando a tentam reduzir ao padrão de mulher frágil, tendencialmente histérica e com necessidade de protecção masculina, ou de «mulher decente», que trabalha em casa em exclusivo, que cuida dos filhos em exclusivo, «bela e virtuosa». A mulher agricultora de que aqui falamos é um sujeito de direitos digno de todo o respeito, tal como o homem deve ser. É uma mulher forte, a qual, faça o tempo que fizer, trabalha a terra como as suas antecessoras lhe ensinaram. Quando chega ao fim da primeira jornada de trabalho, depara-se-lhe uma segunda, com outra série de tarefas a seu cargo: filhos, comida, limpezas… Nessa altura já está cansada, não lhe apetece discutir o seu papel, a sua responsabilidade exacerbada, continuando a fazer tudo sem questionar se poderia ser diferente.
Tenhamos esperança de que tais coisas mudem, de que estas mulheres comecem a falar, a questionar e a definir a sua própria história. Porque isso não está errado nem é condenável – será simples justiça.

[†] Dados provenientes de documentos distribuídos na Marcha Mundial das Mulheres, Outubro 2008.

Artigo publicado in O Gorgulho, Boletim Informativo sobre Biodiversidade Agrícola da Associação Colher para Semear, Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais


Meritocracia e estratificação


Outro dia perguntaram-me "como é que um gajo como tu se dá com gente como nós?"

Quando frequentei a escola, queriam que me fechasse em copas. Porque os meus colegas eram arruaceiros, diziam, eu tinha que me fechar e continuar, melhor que eles, agarrado às notas. Para que quando saísse dali, diziam, eu pudesse ser melhor do que eles.
Não o fiz, eventualmente acabando afastado pelos próprios professores (!) e tenho agora o vago orgulho de amizades duradouras, de me saber capaz de lidar com qualquer um.

Quando cheguei à universidade, queriam pôr-me de quatro, queriam que respeitasse uma qualquer ordem arbitrária e ridícula. Eles e elas, eminente elite educada do país, vestiam-se a rigor, badalavam os princípios elementares dessa praxe que transmite a integração pela humilhação e pelo respeito fictício.
O ciclo repetia-se? Desta vez a resistência foi mais feroz, senti-me contrário a uma vaga de psicose alastrada do do unto others, assisti impávido enquanto pessoas - inteligentes, capazes - se submetiam às vontades de um alarve imbecil que dava pelo título de Dux. Afastei-me, outra vez, fui ter com os "extremistas drogados" da república e encontrei amigos a sério.

Conto isto porque não me surpreende, no sentido resignado e triste da falta de surpresa, quando as piores previsões que faço a este pardieiro de país se confirmam:

link

Atentai. O objectivo do governo é claro: estratificar o ensino. Privilegiar os privilegiados, canalizar os bons para boas escolas, empurrar os menos bons para escolas menos boas.

Propagandeemos o mérito e a estratificação, porque já nada mais se espera desta gente do que o sentido imerecido de glória. Vamos, todos, dividir a sociedade entre os "excelentes", os "muito bons" e os "bons". Admirável mundo novo suspenso no arbitrário e no orgulho efémero, oco; não há Huxley que nos valhe.

Quanto a mim, vou continuar com os rejeitados. Esta luta é incomensurável. Serei a mudança que quero ver neste mundo, como diria o profeta, e definir-me-ei por com quem ando. Como dizia o povinho.

E dia 12 vou ao Porto.

Retorno à cantina dos grelhados


Na última quarta feira, dia 23, tive o privilégio de assistir a mais uma Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra, algo que não fazia desde há vários meses. A minha militância no movimento estudantil viu-se interrompida durante um ano lectivo pela minha estadia no estrangeiro, prolongando-se a interrupção pela particularidade de a elaboração da minha dissertação não exigir uma presença diária na cidade universitária. Assim, não tendo perspectivas de voltar a militar no movimento estudantil de forma activa, retornar uma última vez à cantina dos grelhados para assistir à magna reunião da academia foi deveras interessante.

Verdade seja dita, pouco ou nada mudou. Temos um centrão, dominante desde há décadas na direcção-geral da AAC, que se proclama como o mais intransigente defensor dos direitos dos estudantes, desde que eles se limitem formalmente à luta de gabinetes e às acções de luta simbólica para inglês ver; por seu lado, existe também uma espécie de direita “caceteira”, momentaneamente representada por um indivíduo que responde pelo nome de “Alface”, cujas regurgitações verbais, típicas da direita cavernosa mais ignorante, nos abstemos de escrutinar; temos depois os sectores adictos à JCP, os quais levantam a imperiosidade da luta, desde que cada macaco lute no seu galho, que isso de um cenário de estudantes unidos aos trabalhadores ou aos precários é coisa ruim; por fim, temos um sector mais à esquerda, dinamizado pelos activistas da Frente de Acção Estudantil (FAE) e outros estudantes de esquerda que continuam a pugnar pela necessidade de defender direitos adquiridos, assim como reivindicar outros que ainda se venham a adquirir através da luta incessante contra o governo dos agiotas.

Primeiro, não vou entrar por declarações vazias sobre a AAC, sumarizar a sua “história de luta”, os seus “valores” e/ou “princípios perenes”. Os organismos associativos não possuem uma forma absoluta e imutável. Elas são o que as pessoas fazem delas, assumem as formas que as dinâmicas internas e externas lhe permitem assumir e o seu carácter pode ser historicamente progressivo ou negativo, consoante o contexto histórico-político que as rodeia. É inegável o papel progressivo que a AAC teve na luta contra o fascismo. Já o papel que pode encarnar na luta para ultrapassar as vicissitudes próprias uma democracia podre, é outra história.

A máquina da AAC está eficazmente montada e oleada para manter uma burocracia na direcção, a qual serve com autêntico tampão para a concretização de movimentações reivindicativas por parte dos estudantes. O centrão (JS – JSD) canaliza para aí os seus quadros, os quais protagonizam no seu seio um autêntico “estágio” para a prática política parlamentar . Em grande medida, é a consciência generalizada deste fenómeno, isto é, o dos chamados “tachos” e das maquinações dos “politiqueiros” profissionais, que afasta a esmagadora maioria dos associados de qualquer papel activo na dinamização da AAC. Para constatar isso, basta determo-nos durante dois minutos nos níveis de abstenção dos processos eleitorais, que revelam uma atitude de alheamento por parte dos estudantes que nem os milhões de euros gastos em propaganda pelas máquinas partidárias das J’s consegue subverter.

Durante a minha passagem pelo movimento estudantil, verifiquei que muitas vezes a discussão entre estudantes de esquerda se focava na velha questão: “reformar” a AAC por dentro ou formar um movimento associativo de novo tipo, á margem dos burocratas que insistem em governar o edifício da AAC? Da minha parte, não vislumbrando qualquer alternativa extra-AAC, assumo que não se deve descurar uma intervenção activa no seu interior. Era o que defendia enquanto vivi em Coimbra e assim continuo a pensar. Não excluo a possibilidade de se verificar uma ascensão do movimento estudantil que possibilite um processo de “limpeza interna”, que afaste os burocratas dos cargos de direcção, entregando-a nas mãos dos sectores combativos de esquerda da academia. Tal cenário não é impossível mas, nas condições actuais, é altamente improvável.

Reformar o funcionamento interno da AAC é equivalente a mover uma montanha, constatação que qualquer activista de esquerda que tenha agido nos meandros da universidade coimbrã facilmente subscreverá. Qualquer entidade colectiva institucionalizada, formalmente investida de funções de defesa dos interesses de um dado grupo social, particularmente uma com as dimensões e influência social como a AAC, tende a burocratizar-se e submeter-se à situação política e económica que a enquadra. A elite política e económica ingere e toma o controlo da dita instituição, através de uma casta burocrática. Isto é verdade para associações de tipo sindical, que exercem um papel esmagador no contexto geral da luta de classes, e o mesmo se aplica, grosso modo, à AAC, admitindo que esta se encontra investida de alguma forma, de funções sindicais. Derrubar a burocracia estudantil e assumir o controlo da direcção-geral da AAC é uma tarefa hercúlea, que facilmente consome energias que poderiam ser dispendidas em outras actividades organizativas e políticas.

No entanto, não podemos acriticamente traçar paralelismos entre associativismo no ensino superior e o movimento sindical. Desde logo, uma notória diferença salta á vista: a AAC é um organismo supra-classista, os sindicatos não o são. Somos estudantes, é certo, mas não podemos ignorar a nossa origem de classe. Filhos de trabalhadores, ou os próprios trabalhadores-estudantes, são uma coisa, filhos de industriais ou de banqueiros são outra. Não podemos pretender que os segundos defendam a acção social com o mesmo vigor que o primeiros. Assim, a elite económica e política muito mais facilmente toma conta do movimento associativo estudantil do que do sindical. É isso que se verifica neste momento na AAC. Por muito burocratizada e submetida ao regime político que esteja a CGTP, por exemplo, é difícil para o patronato integrar os seus representantes directos na direcção da central sindical. Ora, tal não parece inverosímil no contexto específico da AAC. A quem tenha algum tempo livre, seria interessante averiguar as origens de classe e proveniência partidária dos sucessivos presidentes das direcções-gerais da AAC. Assim, se esta teve um papel combativo durante a última década do salazarismo em Portugal, como referimos antes, não podemos esquecer que a luta política contra Salazar e Caetano, em certa medida, reflectia o confronto de um sector da burguesia contra outro. A caracterização agora é bastante diferente e certamente que não necessitarei lembrar de qual a classe dos afectados pelos cortes da acção social, e quais os beneficiados com o desmantelamento do Estado Social.

Sem querer escamotear o inestimável valor revelado por colectivos de estudantes intransigentes e combativos, quando inseridos nas fileiras do associativismo estudantil de matriz tradicional, apenas queria apontar as enormes tarefas que se levantam ao agir no interior de um organismo como a AAC. Durante quatros anos, enquadrei a minha militância num desses colectivo, a FAE, de maneira que conheço bastante bem o seu trabalho, o qual só poderia elogiar. A realização da importante manifestação de Novembro mostrou de forma indubitável a importância absoluta que os militantes da esquerda combativa possuem na AAC, na mobilização dos estudantes para o caminho da luta, mesmo quando enfrentam todas as limitações e vicissitudes burocráticas acima referidas. Tal é o caso da FAE, cuja tenacidade e perseverança me resta apenas elogiar.

Da mesma forma, também queria indicar o que seria para mim a situação ideal, ainda que assuma que seja semi-utópica, dada a contextualização actual: a construção de um movimento associativo estudantil de novo tipo. Um movimento associativo estudantil que reflicta os antagonismos de classe, os quais não são neutralizados á porta da faculdade. Um movimento associativo estudantil que organize e represente os sectores desprotegidos dos estudantes: os trabalhadores-estudantes, os estudantes originários da classe trabalhadora e da pequena-burguesia radicalizada, os bolseiros, etc. Ou seja, um movimento associativo estudantil que organize os afectados pelos cortes da acção social e pelo ataque ao ensino superior público. Esta reflexão ocupou-me bastante tempo e, a meu ver, seria um importante passo para um movimento estudantil combativo. Tarefa complicada, bem sei, mas ainda não cobram impostos por sonhar…


P.S: Ademais, parece que o bom senso ainda não se fez ouvir nos meios académicos de Coimbra e as moções continuam a ser votadas ás 5:30 da manhã...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Afinal, quem é que vive acima das nossas possibilidades?


Com que então, responsabilidade nas contas públicas e contenção salarial?
420.000,00 €
TAP
administrador
Fernando Pinto
371.000,00 €
CGD
administrador
Faria de Oliveira
365.000,00 €
PT
administrador
Henrique Granadeiro
250.040,00 €
RTP
administrador
Guilherme Costa
249.448,00 €
Banco Portugal
administrador
Vítor Constâncio
247.938,00 €
ISP
administrador
Fernando Nogueira
245.552,00 €
CMVM
Presidente
Carlos Tavares
233.857,00 €
ERSE
administrador
Vítor Santos
224.000,00 €
ANA COM
administrador
Amado da Silva
200.200,00 €
CTT
Presidente
Mata da Costa
134.197,00 €
Parpublica
administrador
José Plácido Reis
133.000,00 €
ANA
administrador
Guilhermino Rodrigues
126.686,00 €
ADP
administrador
Pedro Serra
96.507,00 €
Metro Porto
administrador
António Oliveira Fonseca
89.299,00 €
LUSA
administrador
Afonso Camões
69.110,00 €
CP
administrador
Cardoso dos Reis
66.536,00 €
REFER
administrador
Luís Pardal: Refer
66.536,00 €
Metro Lisboa
administrador
Joaquim Reis
58.865,00 €
CARRIS
administrador
José Manuel Rodrigues
58.859,00 €
STCP
administrador
Fernanda Meneses
3.706.630,00 €







51.892.820,00 €
Valor do ordenado anual (12 meses + subs Natal + subs férias)
926.657,50 €
Média Prémios


52.819.477,50 €







900,00 €
Média de um funcionário público




58.688,31 - nº de funcionários públicos que dá para pagar com o mesmo dinheiro


Querem uma proposta sobre quais os cintos que devem ser apertados? Será que uma resposta à lá Egipto não será a mais indicada também neste caso?



(Via Tiago Silva, outro que não eu, do http://thibault-o-observador.blogspot.com/)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Falar à esquerda ou agir à esquerda?

Algumas individualidades ligadas ao BE ficaram incomodadas com a reacção negativa de certos sectores da esquerda relativamente à moção de censura que o partido vai apresentar à votação da Assembleia da República em Março. A crónica de São José Almeida, no Público do último sábado, onde adjectiva a moção do BE como “ridícula” motivou reacções por partes dos bloquistas, como é óbvio.

Da minha parte, não acho que uma moção de censura ao governo de Sócrates seja ridícula nem desprovida de necessidade objectiva, face às políticas que o governo tem vindo a implementar e aqueloutras cuja implementação prática ainda se não verificou. O que eu critico, primeiramente, é a incoerência do percurso político dos bloquistas, a qual eu próprio já apontei num texto anterior. No entanto, esta facilmente se perdoaria, caso o BE atinasse no seu caminho. No entanto, parece que tal se não verifica.

No mesmo texto que referenciei acima apontei os reais motivos da apresentação da moção, e aqui entra o segundo objecto de crítica à dita. O que torna a moção “ridícula” é a sua ineficiência, agravando ainda o facto de ela ser consciente da parte de quem a apresenta. Hostilizar à priori aqueles que a poderiam viabilizar é o que a torna inconsequente, isto é, “ridícula” aos olhos de São José Almeida. Esta moção não tem como ojectivo derrubar Sócrates, apenas a salvaguarda do BE aos olhos do seu eleitorado e se isso não é “ridículo” é, pelo menos, falso, desonesto, logo, condenável para uma esquerda socialista e popular. Havia mil maneiras de redigir um texto que obrigasse a direita a votar favoravelmente a derrubada de Sócrates ou, caso o não fizesse, entrar em contradição insanável com o que tem vindo a defender. Por exemplo, simplesmente censurar o governo por não cumprir o seu programa eleitoral. Gostava de ver a extrema-direita populista e os deputados do PSD a votar contra isso...

Defendem-se os apoiantes da inconsequente moção do BE afirmando que já muitas moções foram apresentadas sabendo-se de antemão que não iriam ser aprovadas. É uma verdade indubitável, mas buscar na prática parlamentar passada o critério de acção do BE do presente não abona em favor da credibilidade do partido como alternativa ao pântano político actual. Pelo contrário, integra-o no simulacro de democracia que São José Almeida justamente critica no seu texto. No entanto, lá está: depende sempre dos objectivos políticos que os dirigentes do partido impõem a si próprios. Não me admira nada que a manutenção do pântano parlamentar e do simulacro de democracia esteja conforme aos interesses destes. No que me toca, não só não defendo o simulacro de democracia, como penso que não basta um simulacro de oposição. Não basta falar à esquerda, mas sim agir à esquerda.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Trabalhadores "à rasca" e menos "à rasca", uni-vos!




Olho com o maior interesse para o protesto marcado para o dia 12 de Março, o chamado protesto da “geração à rasca”. Primeiro, devido à forma como foi convocado, por um grupo de activistas que iniciaram a convocatória de modo relativamente espontâneo através do Facebook e da criação de um blog. Ora, foi uma acção de protesto chamada completamente à revelia das organizações sindicais tradicionais, demasiado ocupadas com guerrilhas de gabinete, e os partidos parlamentares, entusiasticamente entretidos a discutir moções de censura a fingir, sem qualquer efeito consequente, a não ser o benefício de uma cobertura mediática, o que não é de menor importância, pois é esta a mão que os alimenta, não a implantação nos movimentos sociais.

A “geração à rasca”, esta camada da classe trabalhadora a que se convencionou chamar o “precariado”, i.e., os “trabalhadores independentes” a recibos verdes, os bolseiros, os dependentes de contratos a termo para postos de trabalho que de temporário não têm nada, os perpétuos semi-desempregados, ou os jovens cuja única experiência no mercado de trabalho resume-se precisamente à falta deste, têm todas as razões para protestar. São a face visível do efeito nefasto que a globalização neoliberal teve nas novas gerações de trabalhadores. Representam o retrocesso civilizacional, porquanto o “precariado” tem numerosas características comuns com o proletariado de épocas anteriores à conquista de direitos sociais básicos, como o direito a férias pagas, 13º mês, contratos estáveis, direito a baixa médica no caso de doença, direito a ter filhos e a uma reforma digna ao fim da vida. E desenganem-se se pensam que estas pequenas grandes conquistas foram realizadas pacificamente, graças ao trabalho dedicado dos nossos doutos parlamentares (não de todos, pelo menos), pois foi a luta e a pressão nas ruas que outorgaram tais direitos a quem trabalha. Em Portugal, apenas uma revolução política e a ameaça de uma revolução social arrancou a ferros estes direitos básicos dos governos burgueses. Assim o foi no passado, e estou bastante seguro que assim o será no futuro.

Apesar de reflectir relações de produção que assumem formas bastante vetustas (chegaria a afirmar, típicas do século XIX), o ressurgimento de uma camada da classe trabalhadora precária, cujas modalidades contratuais estão completamente desenquadradas do contexto histórico onde o movimento sindical português nasceu e cresceu, levou ao desenraizamento daquela em relação a este. Isto é, o movimento sindical, por várias razões, não soube enquadrar esta camada no seu seio. O facto de que os trabalhadores precários muitas vezes não se encontram enraizados numa empresa específica, estão dependentes de empresas de trabalho temporário, logo encontrando-se em permanentes deslocações de empresa para empresa, levou a uma incapacidade manifesta da parte da Intersindical de os enquadrar organizativamente. Digo organizativamente, porque é visível que os sindicatos, nomeadamente a CGTP, já incorporaram a luta pelos direitos dos precários no seu discurso oficial, basta ver a resolução que decidiu a realização da manifestação nacional de dia 19 de Março, onde as reivindicações pelo direito à estabilidade no trabalho e pelo fim do trabalho precário foram insertas. Mas não basta assimilar na consciência colectiva sindical que esta camada social existe, e assumir nos discursos e resoluções que estão do lado deles. É necessário enquadrá-los organizativamente, recebê-los no seio dos sindicatos, para que eles próprios possam enunciar as suas reivindicações, organizar formas de protesto e participar num movimento sindical mais amplo. Óbvio que para atingir este objectivo teria de ocorrer uma autêntica “revolução interna” na CGTP: teria que se permitir uma organização mais flexível para o sector do “precariado”, além de estabelecer práticas mais democráticas e anti-burocráticas no seio do movimento sindical geral, outro dos grandes desafios que os sindicalistas enfrentam, se querem mudanças a sério para a classe à qual pertencem e representam.

Entretanto, é bom que a “geração à rasca” se organize da forma que pode, e o protesto de 12 de Março é um passo importante. Também não é menos importante o protesto marcado pela CGTP, para dia 19 de Março. Da minha parte, espero apenas que desta vez se veicule uma perspectiva de contestação crescente e contínua, além da integração unitária de todos os sectores da classe trabalhadora num objectivo imediato comum: a caída de Sócrates, pois essa é a única maneira de se verificar a “mudança de políticas” que a CGTP eternamente exige. Há que concretizar: para uma mudança de políticas, Sócrates para a rua! Todos os trabalhadores, precários e menos precários, nacionais e imigrantes, homens e mulheres, devem estar unidos nessa luta. É essa a censura que o governo merece, a censura que o pretenda derrubar efectivamente, porque de teatro parlamentar e tacticismos políticos inócuos já estamos nós fartos.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mapa do movimento revolucionário mundial

http://static.publico.pt/homepage/infografia/mundo/conflitosafrica3/

Parece que Tripoli é o epicentro do terramoto agora.

Constatações

Este último fim-de-semana, vi os dois "Tropa de Elite".
O resumo do que ficou, é que realmente o sistema é foda.
Como algo que acreditamos, muitas vezes, pode gerar frutos perversos, no sentido em que não era o objectivo do que pretendíamos.


Acima de tudo, ajuda a fazer um exercício: não combatemos dentro do sistema que existe, ele só transformará esse combate a favor dele, de uma maneira ou de outra, é a natureza das coisas.

 Suscita um receio: mesmo as transformações que vêm de lutas "fora do sistema" podem muito facilmente serem produtos mais perversos do que o sistema anterior.

Suscita uma vontade: não faz parte de nós deixar de lutar por melhor.


Levanta muitas dúvidas que, a maior partes das vezes, são as nossas maiores certezas.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Portugal allez


Não quero passar aquela ideia do país de merda, que isto é uma cambada de inúteis, que eu é que sou esperto e o resto não pensa, etc, mas achei isto curioso para quem tiver uns minutos a desperdiçar:


1 2 3 4 5 6 7 8 9


Não só ignoram (pronto, desculpe-se) o teor sexista da notícia ("as empregadas"), colmatando-o com a dose necessária de chauvinismo, como coletivamente se julgam acima da lei quando contratam alguém.


Na minha casa ninguém manda, carago! Eu faço o que quero! Uga uga uga, e a minha empregada leva com o fumo que se fode.

Chama-se tiro pela culatra.

Uma semana e meia terá transformado o Bloco num partido igual aos outros? - Política - PUBLICO.PT

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

E a próxima Deolinda vai para...

Depois do PSD ter usado a Movimento Perpétuo Associativo numa campanha e, agora, do BE usar a Parva Que Sou na sua brand new causa fracturante, fica por determinar qual vai ser o próximo partido que os Deolinda vão assistir.

Cá para mim, a próxima vai para o PAN (a página tem um burro! formidável!). Vai ser uma música sobre uma inocente rapariga nos seus 20 anos que se confronta com a eutanásia do seu velho cão companheiro de infância.



Enternecedor, no mínimo.

O centro da atenção

Jornalista do “60 Minutos” Lara Logan sexualmente agredida no Egipto - Media - PUBLICO.PT

Ao ler a notícia, seja qual ela for, preocupo-me em pesquisar as reacções que provoca, não interessa apenas a notícia mas também a forma como as "várias massas" reagem a essa mesma notícia.

Ora, tendo em conta a notícia e as reacções que provocou, a minha reacção é esta:

Lamento profundamente, como qualquer outra pessoa, o sucedido.

Não culpo a religião predominante no país pelo sucedido, uma vez que a vítima foi atacada, mas também salva, por egípcios.

O que aconteceu poderia acontecer em qualquer outra parte do mundo, com qualquer outra religião predominante ou não. Basta ter um pouco de memória histórica, ou mesmo senso comum, para chegar a essa conclusão.

Contam-se pelos dedos (entre as milhares existentes), as religiões que respeitam a dignidade da mulher, ou mesmo a dignidade de quem quer que seja.

Por isso,

Lamento também, que a discussão se desvie do seu verdadeiro centro.

Vamos falar do fenómeno do descontrolo das multidões e dos crimes que ocorrem nesse contexto?

Vamos falar do sem número de vítimas civis em cenários de guerra ou não, que foram completamente esquecidas, completamente apagadas da História ?

Ou vamos continuar a branquear estas discussões com a habitual disputa: a minha religião é melhor que a tua?

Não há religiões melhores nem piores, crenças melhores ou piores.

São todas alienações que nos afastam sempre do que é importante, a questão central, tentar discutir com conhecimento, livres de ilusões e preconceitos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Nem tudo são más notícias...

"Será possível admitir que o douto Kautsky nunca tenha ouvido dizer que os parlamentos burgueses estão tanto mais submetidos à Bolsa e aos banqueiros quanto mais desenvolvida está a democracia?"

(Lenin, em "A revolução proletária e o renegado Kautsky", sendo este o líder teórico da II Internacional, aquela mesma que alberga os partidos governantes das ditaduras do Egipto e Tunísia, e cujos dirigentes vão depois ensinar os ignorantes magrebinos como fazer a "transição democrática", i.e., protesta mas baixinho, senão levas no focinho)

Bem, afinal a democracia não sofre nenhuma crise com o actual servilismo dos governos "socialistas" ao capital financeiro. Apenas segue um curso delineado desde longa data... Com isto, só queria ter uma citação bonita para dar os parabéns a todos os arautos das virtudes da democracia parlamentar, desde o Paulo Portas até ao Francisco Louçã. Um bem-haja por nos entreterem com discursos exuberantes e moções de censura a fingir!


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Para compreender as revoluções dos outros...

...deve-se perceber a nossa. Ver esta excelente análise da revolução portuguesa, da pena do Valério Arcary.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Algumas notas sobre a revolução egípcia


Mubarak caiu. Um passo importante foi dado no Egipto. A altura é de alegria e de festa, não só para os revolucionários egípcios, mas para todos que sonham com uma terra sem amos, patrões e chefes supremos.


O primeiro impulso para muitos foi gritar “vitória”, enquanto outros proclamam a demissão de Mubarak como o desfecho da revolução, e o ponto de partida para a “transição”. Percebo os primeiros, que impulsivamente confundem a partida com a meta, e certamente compreendo os segundos, entre eles, os líderes europeus e norte -americanos, que temem as consequências do poder revolucionário popular.


A revolução não termina com a demissão de Mubarak, é agora que ela se inicia. Várias tarefas democráticas levantam-se: primeiro, livrar-se de todos os vestígios do regime, ao nível do poder político, económico e militar. Mubarak, Suleiman e respectivos compinchas devem ser julgados e condenados, e as reivindicações nesse sentido já se iniciaram, elevando o tom do protesto. Segundo, os militares não devem continuar a exercer o poder. Eles foram o principal sustentáculo do regime, e não prevejo que o seu carácter e metodologia se altere de um dia para o outro. Certamente que haverá sectores progressistas nas forças armadas, mas nesse caso, deveriam-se organizar independentemente dos oficiais, a maioria deles provavelmente ligados de alguma maneira ao regime moribundo. O papel do exército e da polícia na sustentação do regime de Mubarak não deve, no entanto, ser escamoteado. Em Portugal, confiar no MFA como representante supra-classista dos anseios populares foi um erro que levou irremediavelmente ao golpe de 25 de Novembro.


Terceiro, e ainda no campo da revolução democrática nacional, deve-se garantir a autodeterminação política do país, isto é, golpear o imperialismo ocidental, e sua vertente sionista, na região. O regime de Mubarak era respeitado e protegido tanto pelos EUA como pela EU, que usavam os recursos do país, resignado a uma elite dominante, segundo as suas necessidades geo-estratégicas e militares. Agora, depois de se aperceberem da queda iminente do regime apodrecido, a palavra “democracia” voltou aos seus discursos. Afastam os olhos de Mubarak, começam a falar em “não-violência”, e tornam o olhar para o exército e para os sectores “democratas”, como El Baradei. Também este, o “Spínola” egípcio, deve ser derrotado. Derrotar o regime de Mubarak exige também a derrota do imperialismo e do sionismo, fenómeno central para o futuro da região.


E a partir daqui é que as coisas se tornam espinhosas. As reivindicações económico-sociais, reais motores da revolução, irão emergir, e desaparecerá a aparente "unidade" do povo egípcio nas suas demandas. Já se notam as tentativas de “esvaziar” o conteúdo das exigências do povo egípcio. Os comentadores geralmente falam numa luta pela democracia, pela liberdade política, e nada mais. Diga-se, da mesma forma como se depurou a revolução de 1974 – 1975 em Portugal do seu carácter pró-socialista. Segundo a ideologia dominante, o Abril português não foi essencialmente uma luta pela emancipação dos trabalhadores e por melhor qualidade de vida. Não, foi apenas uma luta pela democracia e pela liberdade, conceitos tão abstractos e relativos na boca da burguesia. O mesmo acontece no Egipto. Ignoram a raiz material do movimento revolucionário. Esquecem-se dos mais de 40 milhões de pessoas, metade da população, que vive com menos de 50 euros por mês. Esquecem-se dos 23% de crianças com menos de 15 anos que vivem na miséria extrema, devendo-se confrontar estes exemplos com aqueloutro dos burgueses que vão a Londres e voltam no mesmo dia para cortar o cabelo ou tomar uma refeição. A origem da revolução, lá como cá, é a mesma: miséria, desigualdade e repressão. Quando as reivindicações subirem de tom, e espero que subam, e se exija à burguesia, tanto a corrupta como a menos poluta, que se afaste do poder, aí sim, a revolução assume as suas formas finais. Isto não é uma luta por “democracia”. Não é uma mera troca de um capataz bruto por outro mais meiguinho. É uma luta de morte pelo direito à habitação, comida, saúde, educação, em suma, uma vida digna. Para isso, nem Mubaraks, nem Baradeis e muito menos Obamas. Poder popular é a resposta. Como se vê, a situação tem incríveis similitudes com a portuguesa. Esperemos que, lá como cá, surja um movimento de massas e uma direcção política à altura das tarefas que se impõem.


P.S: Não deixo de esboçar um sorriso, ao relembrar que o movimento de massas foi despoletado por um grupo de bloggers e “facebookers” que convocou uma modesta manifestação espontânea no dia 25 de Janeiro, em memória de Khaled Said, assassinado pela polícia meses antes. Pois é caríssimos, eu tinha razão: os novos meios de comunicação webísticos têm um papel a cumprir na mobilização geral. Censurar um revolucionário de hoje em dia por ter blog e perfil de facebook é o mesmo que censurar um bolchevique russo do início do século XX por utilizar a rádio como forma de divulgação. Ainda que não tenha sido o elemento decisivo, a web fez mais pela revolução no Egipto que as trinta mil publicações das outras tantas Quartas Internacionais.

Rua com Mubarak e seus esbirros!


Primeira vitória no Egipto. Reflexões ficam para mais tarde, por agora, festa e revolução!

Aqui fica uma contribuição musical para as reflexões que têm de ser feitas.

Everybody's Fault!!!

http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/cartao-de-eleitor-culpa-foi-da-dgai-da-informatica-e-dos-eleitores_1479665

Tcharan!!! E é culpa de toda a gente.

É da DGAI, é da informática, e mais importante, é dos eleitores. A isto se chama "democracia da culpa", a democracia pode não funcionar para muita coisa, mas para a culpa, alto lá! É favor "democratizar"!

É interessante perceber o papel culposo do eleitores nesta embrulhada das eleições, segundo o relatório da Universidade do Minho, que descreve que houve um acesso "excessivo" ao portal de eleitor, na ordem de um esforço de processamento de 99 %, e uma estimativa de 1,5 pedidos de informação via sms, por eleitor.

Ora, meus senhores, não é suposto a afluência a esses meios de informação aumentarem exponencialmente em vésperas de eleições?

"Mea culpa", meus senhores, para a próxima vou consultar o portal de eleitor com bastante antecedência para evitar sobrecarregar os vossos serviços.

Pedimos desculpa por não conseguirmos aceder a esse mesmo portal.
Pedimos desculpa por enviar 1,5 pedidos de esclarecimento via sms e não termos obtido qualquer resposta.
Pedimos desculpa, que ao domingo, para além de termos levantado o rabo para votar e participar num sistema em que já ninguém acredita, tivéssemos que ir ainda até à junta de freguesia perguntar: qual é o meu número de eleitor, que se passa?
Pedimos desculpa, que ainda assim, muita gente não pudesse votar.



Acima de tudo, pedimos desculpa, por ainda termos paciência para vos aturar.

Concluímos, admirando a banda sonora que nos oferecem, "everybody hearts sometimes"...

Futurologia

Com que então, moção de censura?

Eu compreendo que ninguém pudesse ficar à espera que o PCP se mexesse. Mas... moção de censura? Contra o governo... agora? Mas isto é castigo por o Alegre ter perdido?

Tenho reparado num fenómeno: há muito pardal no BE convencido que este país é só malta de esquerda. Aliás, a chuva de parvoíces e insultos em torno dos abstencionistas e dos que votam em branco recente não foge muito ao argumento: a culpa é de quem não participa! Se não participas, claro que a direita vai continuar lá!

Cá para mim o BE está desfasado da realidade. Derrubar o governo? Agora? Está certo que o PS não é muito diferente do PSD hoje em dia, mas daí a dar maiorias absolutas ao último de bandeja... (sim, caros: era isso que ia acontecer. a culpa não ia ser dos votos em branco. não ia ser dos revolucionários de sofá. metam na cabeça que dois terços da massa votante não vai na cantiga dos partidos de esquerda.)

O que nos vale é que nem o PSD alinha nisto. Incrível, não é?

Quem segura o leme no BE?


Ainda alguém segura o leme no barco do BE, ou a navegação à deriva já é oficial? Primeiro, os bloquistas recusam viabilizar qualquer moção de censura que vise derrubar governo, pois isso seria abrir o caminho do poder à direita (como se o PS não pertencesse a essa categorização ambígua que dá pelo nome de “direita”). Depois, andam de braço dado com o Sócrates a correr o país com um candidato presidencial conjunto, propalando o PS como o garante do Estado Social, ao mesmo tempo que reduz todos os que discordam da táctica de aproximação ao governo a meros reaccionários cavaquistas, pagos pela CIA. Qual o meu espanto quando vou ver as notícias e sou informado que o BE vai apresentar uma moção de censura!


Louçã e relativos camaradas já se aperceberam do tiro no pé que foi a campanha presidencial e pretendem recuperar a imagem da “esquerda que dá luta”. No entanto, estão fartos de saber que o PSD não vai votar favoravelmente esta moção, reduzindo-a a mero fogo de vista. O BE quer recuperar a imagem de esquerda combativa que um dia apresentou? Comece por ser honesto. Ou se está contra o governo ou não. Tácticas políticas contorcionistas e jogos de bastidores parlamentares não contribuem para a credibilização do partido como esquerda de combate. Ou se alinha com quem está contra a “direita”, incluindo nesta definição o PS, ou segue os conselhos da “esquerda responsável” (cujo timoneiro no BE responde pelo nome de Daniel Oliveira) na defesa do governo de Sócrates. A clarificação impõe-se, de facto. Não ao PSD, obviamente, dessa bancada já estamos fartos de saber qual o projecto que apresentam ao país. É altura do BE escolher. A luta ou a institucionalização. Eu desconfio que já sei a resposta, mas há muita boa gente que ainda deposita esperanças vãs.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quantos anos de vida custa ser operário?


No Público de 7 de Fevereiro, foi publicada uma notícia que nos informa de um recente trabalho de investigação, levada a cabo pelo sociólogo Ricardo Antunes, do Instituto Universitário de Lisboa, segundo a qual a classe social é o factor determinante na desigualdade da idade média de vida, e não a geografia. O estudo, com o título Classes Sociais e a Desigualdade na Saúde, conclui que indivíduos de estratos sociais mais elevados vivem, em média, mais dez anos do que os operários. Os factores determinantes são, segundo Ricardo Antunes, o nível de escolaridade e os recursos materiais (dez anos adicionais extorquidos através da contínua extracção de mais – valia dos trabalhadores, acrescentaríamos nós). Assim, vê-se que a progressiva destruição do Serviço Nacional de Saúde não é o único obstáculo ao direito à igualdade no acesso à saúde. O próprio sistema económico, inerentemente injusto, também o é. Não basta (re)construir o SNS, de forma a que cubra todo o território nacional com serviços de saúde qualificados e gratuitos, é necessário construir de raiz uma sociedade justa, onde a riqueza seja racionalmente distribuída e o acesso à educação facilitado para toda a população. Tarefa impossível para governos cujas cervizes se dobram aos pés dos mercados financeiros internacionais e do imperialismo político da União Europeia, portanto.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Moving Forward


Há coisa de duas semanas fui ver a estreia do documentário "Zeitgeist: Moving Forward" que houve na minha terra. É o terceiro de um conjunto de documentários feitos por um tal de Peter Joseph, um cromo recém-convertido em hippie tecnológico.

Para quem não conhece, o Zeitgeist é um documentário que visa desmontar milhares de anos de uma conpiração para controlar o ser humano. A começar na religião organizada e a culminar no 11 de Setembro. Depois, no segundo filme, passa para o tom de alerta avisando que estamos todos f* se isto continua assim, ao mesmo tempo que apresentam o "Projecto Vénus", uma utopia tecnológica anárquica.

Este terceiro desenvolve essa ideia, ao mesmo tempo que explora coisas como a pobreza e o debate nature vs nurture (!).

Devo dizer que não guardo muito apego pela série documental. Está repleta de erros e é enganadora. Também não me agrada o tom doutrinário tanto deste como do anterior filme, como aliás me desagrada qualquer iluminado que julga saber "o que faz falta" a esta sociedade. Desdenho de futurologias. Não compactuo com este modelo de pensamento que tenta explicar tudo, como se a "verdade" apontasse para algum lado.

Enfim, mas não é disso que quero falar. Ao que parece (e descobri isso da outra vez que veio cá a NATO reunir, quando lhes topei uma barraca), existe um "Movimento Zeitgeist". Foi, aliás esse movimento que organizou a estreia do documentário pelo país inteiro.

Esse movimento, ao que parece, tem por objectivo divulgar o trabalho do Peter Joseph e realizar acções de sensibilização quanto ao rumo que o capitalismo toma, às injustiças que cria e a possíveis soluções sustentáveis que não são exploradas. É composto maioritariamente por malta jovem, com vontade de fazer alguma coisa e que não se revê no sistema político actual.

Cheguei a referir que são apartidários?

Troquei uns dedos de conversa com um ou outro e ouvi quando nos falaram, no final da sessão. Têm vontade. Têm garra. Fazem coisas - mexem-se. E resistem (aguerridamente!) a quaisquer conotações partidárias - arriscaria mesmo: "políticas", no sentido ideológico da palavra. Brandem orgulhosamente a bandeira "nós não somos comunistas* ou anarquistas ou liberais ou o que quer que seja".

...e isso deixa-me satisfeito. Camaradas: há vida fora dos partidos. Há gente a mexer-se. Fica aqui a minha palavra de incentivo a esses e outros movimentos, que prezam pela alternativa. "Unam-se" dizem eles, pois eu digo: fragmentem-se! Isto o que é preciso é barulho. Ou, pelo menos, que haja gente a fazer algo com que verdadeiramente se identifique.

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* Embora eu argumentaria que aquilo que eles propõe não passa de um marxismo aplicado à era tecnológica...

Aproximar-se-á a queda do sionismo?


Noticia 1

Noticia 2

Estas duas noticias expõem de forma clara os perigos que a revolução no Egipto levanta para o enclave sionista de Israel. O Egipto é a chave mestra para a domesticação e pacificação do mundo árabe, relativamente ao colonialismo sionista, como tal, se o governo fortemente pró-sionista de Mubarak cai, Netanyahu e respectivos compinchas estão em maus lençóis. Daí a importância de uma nova Intifada na Palestina, concertada com as revoluções nos países vizinhos. O estado israelita já se apercebeu dos perigos que corre desde o início, e sabe que a vitória da (verdadeira) democracia no Egipto (não a democracia tutelada pelo Império, como pretende Baradei) pode ser o início do seu fim.

Assim, é sumamente revelador ver a simpatia que os altos responsáveis da "única democracia do Médio Oriente" demonstram por todas as ditadura sanguinárias dos países árabes. Nas palavras de Netanyahu:

"I'm not sure the time is right for the Arab region to go through the democratic process"

Ou então, quando cita a Faixa de Gaza como a "signal warning of the risk that comes with asking the people what they want".

De facto, Israel, como mera colónia militarizada, vai contra o que os povos da zona querem, é um dos maiores obstáculos a qualquer democracia nacional na zona, e a sua destruição total é, pela mesma lógica, um serviço a um Médio Oriente melhor. A ver vamos, como as coisas evoluem...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Contra o desperdício

Estando de momento a estudar o assunto, aconteceu que tive a sorte de ter como senhoria alguém com um trabalho muito interessante e original.

Aconselho uma visita ao sítio da Ana Cardim, é toda uma perspectiva que faz todo o sentido nos nossos dias de ocidentais numa cultura de desperdício de níveis assustadores.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Contra o Mérito


Esta coisa da auto-avaliação constante da função pública passou, aplicou-se e é efectiva. Rapidamente se esqueceram os protestos, rapidamente se passou de contestar a existência de um modelo de avaliação para se contestar apenas a forma como esta avaliação é feita.

No caso concreto dos professores, já não ouço nada que não confirme o veredicto: a avaliação é coisa porreira, veio para ficar, é uma questão de como se faz. Isto vindo da direita, da esquerda, dos sindicatos, das próprias escolas - que no início se opuseram - e também de muitos professores. Com comentários que vão do fundamentado ao, como já li, "é bem feito, que avaliam os alunos impunemente e agora vão provar do remédio" (!).

Ora: a formação é dada pelo sistema de ensino! Por que raio é que se torna aceite a ideia de que seremos avaliados a vida toda? Sem parar! Todo o santo ano! Sempre e constantemente a provar o nosso valor porque deus sabe que eu deste ano para o outro afundo em incompetência.

Uma lógica de mérito pérfida, que vantajeia o conivente e o subserviente. Que privilegia, ainda por cima e neste caso, o compadrio e a eficiência de fachada! Até quando vamos impor "metas" arbitrárias?

Esta nova premissa da "avaliação de desempenho", que pouco ou nada releva para a qualidade da formação e do trabalho, contribui sobretudo (fundamentalmente!) para a microestratificação das relações sociais. Incentiva à competição e, subsequentemente, ao conflito interno. Pauta-se pela velha noção de progresso fundamentada não pela criação de inter-ajuda orgânica mas sim pelo atrito constante e pela vontade de poder.

Caro(a)s: O mérito "tem-se". O valor de uma pessoa não é uma capacidade mensurável, quantificável em relatórios e duas ou três opiniões do chico-esperto do teu colega de trabalho. Querem um bom profissional? Que tal mandar as pistolas para o lixo e pensar em como dar-lhe condições para que viva bem?