segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sangrias e economia

À medida que leio notícias sobre o pacote de austeridade a ser negociado com o UE-FMI, só me ocorre uma imagem: a do ser humano moribundo após sucessivas sangrias.

A sangria era uma prática utilizada no passado e, ao contrário do que acontece hoje, pensava-se que podia curar qualquer mal. São frequentes as imagens nos filmes em que se vê o médico a perfurar uma veia no braço do paciente deixando escorrer sangue para um alguidar de louça. Ora, frequentemente, este tratamento matava mais do que curava. Além de os instrumentos utilizados não serem esterelizados, o paciente era enfraquecido sendo mais dura a luta contra a doença que afectava. Acutalmente, este sistema é ainda utlizado mais em situações muito pontuais e em condições completamente diferentes.

A partir desta pequena explicação, torna-se óbvio o que quero dizer. O tratamento de austeridade a que provavelmente este país vai ser submetido, vai provocar uma sangria incapacitando-nos por sabe-se lá quanto tempo de lutar contra a doença económica que nos aflige. Privatizações, desregulamentação do mercado de trabalho e aumento da carga fiscal, vai colocar-nos em estado terminal. E é como se estes 'médicos' ensimesmados não percebessem que a sangria até aqui aplicada resultou numa enorme e dura crise e, na tentativa de curá-la, vão usar os mesmos métodos. Claro fica que isto é impossível, irresponsável e até criminoso pois agem deliberadamente e ciente das consequências nefastas para as pacientes.

Portanto, se não queremos acabar na morgue, o povo deste país precisa de se mobilizar e encontrar outro remédio para o nosso mal. Neste blog já foram deixadas algumas pistas: manifestações, greves e ocupações. A longo prazo, controlo por parte dos trabalhadores de alguns meios de produção e nacionalização de sectores estratégicos.

3 comentários:

Tiago Silva disse...

Curioso que, por vezes, os físicos medievais usavam sanguessugas para sangrarem o paciente. Não encontro melhor animal para colar aos que nos impõem esta "ajuda".

Miguelito disse...

E o que me têm a dizer sobre a suspensão do pagamento da dívida? Se a "ajuda" ainda não nos permitirá começar a pagar a própria dívida de que serve nos preocuparmos com credores tão pouco preocupados com a "liquidez" dos seus devedores?

Tiago Silva disse...

Eu não percebo muito destas coisas, mas a ideia com que fico é que vamos usar este capital para pagar uma dívida aos agiotas do costume (banca privada portuguesa, francesa e alemã), para pagar depois de 2013 aos agiotas do FMI. Enfim, para eles, é win-win situation. Daí, a categorização destes bandidos como sanguessugas.