quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Ajuda" externa? Não,obrigado!

"Notas soltas sob a forma de previsões. Primeira: o termo “ajuda externa” desaparecerá rapidamente da discussão entre a generalidade dos cidadãos. Só os bancos, os economistas neoliberais e outros intelectuais disponíveis o continuarão a usar pelo tempo que a sua credibilidade reduzida permitir. Afinal de contas, a nível nacional, o capital financeiro é o putativo ganhador do anúncio que Sócrates fez hoje e que Passos Coelho se apressou a saudar, claro: depois de terem andado a “intermediar” entre o BCE e o Estado, depois de terem tido garantias e vantagens fiscais do Estado bombeiro, os bancos portugueses viraram-se directamente para o centro europeu e, revelando todo o seu poder a nível nacional, cuidam dos seus gananciosos interesses. Liquidez é a palavra-chave. Solvabilidade logo se vê.

Entretanto, as taras dos sucessivos PEC acentuar-se-ão numa intervenção externa que representa, na realidade, o seu culminar. A
economia política da austeridade já é clara há algum tempo: redução dos salários directos e indirectos, também facilitada pelo crescimento de um desemprego de massas permanente. Agora temos empréstimos garantidos para ir impedindo perdas no sector financeiro do centro e de uma periferia cada vez mais subalterna.

A Grécia e a Irlanda aí estão a indicar o que acontece em intervenções externas cuja política económica é inspirada nos famosos ajustamentos estruturais de tão má memória a sul e a leste: recessões com custos sociais que são sistematicamente transferidos para as classes populares obrigadas a escolhas cada vez mais trágicas devido à fragilização da provisão pública. Tudo isto acompanhado pela venda activos nacionais a preços de saldo, o que muito agrada aos capitais que circulam por aí, mas que representa a fragilização das capacidades económicas do país. 1983 é uma má referência. Não podemos desvalorizar a moeda, o Estado não tem a presença que tinha, depois de décadas dominadas por duas desgraçadas palavras na economia: liberalização e privatização.

Uma segunda previsão: acabará definitivamente a hegemonia do europeísmo feliz do bloco central e dos seus intelectuais. A União Europeia deixará de ser sinónimo de progresso e coesão social. A natureza dos seus arranjos institucionais, desde que Maastricht abriu caminho a um euro disfuncional, já apontavam para este resultado económico das periferias. Chegou a altura do realismo: temos de lutar contra o projecto de acumulação por expropriação do que é público. Estamos no desgraçado clube PIG? O clube alargar-se-á.
[...]"

(Via Ladrões de Bicicletas, texto da autoria de João Rodrigues)

Acrescento eu: Não à vossa "ajuda", cujas "reestruturações" eu conheci bem, quando vivi na Letónia, pouco tempo após uma filantrópica "ajuda externa"! Miséria e destruição do que restava de serviços sociais do estado. Ah, não sei se já tinha referido, mas muita miséria...

Respostas? Não pagamos dívidas a agiotas, contraindo empréstimos para pagar os anteriores!Expropriemos ao privado o que deve ser público! Nacionalização da banca, dos sectores centrais da economia e fim da ditadura dos "mercados", do capital financeiro e das agências de rating! A riqueza existe, é criada por quem trabalha e está concentrada nas mãos de uns poucos, os mesmos que agora pedem "ajuda externa" para enriquecer ainda mais e destruir o que resta das conquistas de Abril!

Vem aí uma etapa de confronto agudo entre as classes. As direcções do movimentos político e sindical dos trabalhadores estarão à altura das exigências ou deixarão o anti-capitalismo e o socialismo para os discursos de ocasião?..

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