quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Moving Forward


Há coisa de duas semanas fui ver a estreia do documentário "Zeitgeist: Moving Forward" que houve na minha terra. É o terceiro de um conjunto de documentários feitos por um tal de Peter Joseph, um cromo recém-convertido em hippie tecnológico.

Para quem não conhece, o Zeitgeist é um documentário que visa desmontar milhares de anos de uma conpiração para controlar o ser humano. A começar na religião organizada e a culminar no 11 de Setembro. Depois, no segundo filme, passa para o tom de alerta avisando que estamos todos f* se isto continua assim, ao mesmo tempo que apresentam o "Projecto Vénus", uma utopia tecnológica anárquica.

Este terceiro desenvolve essa ideia, ao mesmo tempo que explora coisas como a pobreza e o debate nature vs nurture (!).

Devo dizer que não guardo muito apego pela série documental. Está repleta de erros e é enganadora. Também não me agrada o tom doutrinário tanto deste como do anterior filme, como aliás me desagrada qualquer iluminado que julga saber "o que faz falta" a esta sociedade. Desdenho de futurologias. Não compactuo com este modelo de pensamento que tenta explicar tudo, como se a "verdade" apontasse para algum lado.

Enfim, mas não é disso que quero falar. Ao que parece (e descobri isso da outra vez que veio cá a NATO reunir, quando lhes topei uma barraca), existe um "Movimento Zeitgeist". Foi, aliás esse movimento que organizou a estreia do documentário pelo país inteiro.

Esse movimento, ao que parece, tem por objectivo divulgar o trabalho do Peter Joseph e realizar acções de sensibilização quanto ao rumo que o capitalismo toma, às injustiças que cria e a possíveis soluções sustentáveis que não são exploradas. É composto maioritariamente por malta jovem, com vontade de fazer alguma coisa e que não se revê no sistema político actual.

Cheguei a referir que são apartidários?

Troquei uns dedos de conversa com um ou outro e ouvi quando nos falaram, no final da sessão. Têm vontade. Têm garra. Fazem coisas - mexem-se. E resistem (aguerridamente!) a quaisquer conotações partidárias - arriscaria mesmo: "políticas", no sentido ideológico da palavra. Brandem orgulhosamente a bandeira "nós não somos comunistas* ou anarquistas ou liberais ou o que quer que seja".

...e isso deixa-me satisfeito. Camaradas: há vida fora dos partidos. Há gente a mexer-se. Fica aqui a minha palavra de incentivo a esses e outros movimentos, que prezam pela alternativa. "Unam-se" dizem eles, pois eu digo: fragmentem-se! Isto o que é preciso é barulho. Ou, pelo menos, que haja gente a fazer algo com que verdadeiramente se identifique.

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* Embora eu argumentaria que aquilo que eles propõe não passa de um marxismo aplicado à era tecnológica...

3 comentários:

Tiago Silva disse...

Não sei se o Movimento Zeitgeist será uma resposta reorganizativa à altura da configuração histórica, por todas as limitações que tu próprio referiste, mas a proposta de superação (crítica e positiva) do marxismo que apresentas é completamente válida e necessária. Eu próprio ando num processo de auto-crítica, e nos intervalos da minha tese tenho lido e escrito umas coisas, desde Marx até Jünger ou Niekisch,tendo em vista uma reconfiguração teórica. Daqui a uns meses mando-te os textos e discutimos sobre eles :)

Unknown disse...

Resposta não será, certamente. Mas penso ser significativo e digno de reflexão que um movimento com a envergadura que este tem, junto com as implicações sociais e políticas que propõe, sinta orgulho em demarcar-se de ideologia política.

Há um certo ar de desilusão perante o processo democrático. Enquanto que este tipo de posições possam não ter grandes implicações em si, penso ser bastante importante que surja a massa crítica que pretenda fazer "algo". Ainda que esse "algo" não leve a lado nenhum...

Entretanto e em relação a Marx, chamaram-me a atenção a esta futura edição: http://yalepress.yale.edu/yupbooks/book.asp?isbn=9780300169430

Tiago Silva disse...

Parece ser interessante, sim senhor. Se comprares, tens de me o emprestar, depois de leres :P