domingo, 20 de fevereiro de 2011

Falar à esquerda ou agir à esquerda?

Algumas individualidades ligadas ao BE ficaram incomodadas com a reacção negativa de certos sectores da esquerda relativamente à moção de censura que o partido vai apresentar à votação da Assembleia da República em Março. A crónica de São José Almeida, no Público do último sábado, onde adjectiva a moção do BE como “ridícula” motivou reacções por partes dos bloquistas, como é óbvio.

Da minha parte, não acho que uma moção de censura ao governo de Sócrates seja ridícula nem desprovida de necessidade objectiva, face às políticas que o governo tem vindo a implementar e aqueloutras cuja implementação prática ainda se não verificou. O que eu critico, primeiramente, é a incoerência do percurso político dos bloquistas, a qual eu próprio já apontei num texto anterior. No entanto, esta facilmente se perdoaria, caso o BE atinasse no seu caminho. No entanto, parece que tal se não verifica.

No mesmo texto que referenciei acima apontei os reais motivos da apresentação da moção, e aqui entra o segundo objecto de crítica à dita. O que torna a moção “ridícula” é a sua ineficiência, agravando ainda o facto de ela ser consciente da parte de quem a apresenta. Hostilizar à priori aqueles que a poderiam viabilizar é o que a torna inconsequente, isto é, “ridícula” aos olhos de São José Almeida. Esta moção não tem como ojectivo derrubar Sócrates, apenas a salvaguarda do BE aos olhos do seu eleitorado e se isso não é “ridículo” é, pelo menos, falso, desonesto, logo, condenável para uma esquerda socialista e popular. Havia mil maneiras de redigir um texto que obrigasse a direita a votar favoravelmente a derrubada de Sócrates ou, caso o não fizesse, entrar em contradição insanável com o que tem vindo a defender. Por exemplo, simplesmente censurar o governo por não cumprir o seu programa eleitoral. Gostava de ver a extrema-direita populista e os deputados do PSD a votar contra isso...

Defendem-se os apoiantes da inconsequente moção do BE afirmando que já muitas moções foram apresentadas sabendo-se de antemão que não iriam ser aprovadas. É uma verdade indubitável, mas buscar na prática parlamentar passada o critério de acção do BE do presente não abona em favor da credibilidade do partido como alternativa ao pântano político actual. Pelo contrário, integra-o no simulacro de democracia que São José Almeida justamente critica no seu texto. No entanto, lá está: depende sempre dos objectivos políticos que os dirigentes do partido impõem a si próprios. Não me admira nada que a manutenção do pântano parlamentar e do simulacro de democracia esteja conforme aos interesses destes. No que me toca, não só não defendo o simulacro de democracia, como penso que não basta um simulacro de oposição. Não basta falar à esquerda, mas sim agir à esquerda.

Sem comentários: