segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
As mulheres, a desigualdade de género, a invisibilidade histórica e a biodiversidade
Meritocracia e estratificação
Quando frequentei a escola, queriam que me fechasse em copas. Porque os meus colegas eram arruaceiros, diziam, eu tinha que me fechar e continuar, melhor que eles, agarrado às notas. Para que quando saísse dali, diziam, eu pudesse ser melhor do que eles.
Não o fiz, eventualmente acabando afastado pelos próprios professores (!) e tenho agora o vago orgulho de amizades duradouras, de me saber capaz de lidar com qualquer um.
Quando cheguei à universidade, queriam pôr-me de quatro, queriam que respeitasse uma qualquer ordem arbitrária e ridícula. Eles e elas, eminente elite educada do país, vestiam-se a rigor, badalavam os princípios elementares dessa praxe que transmite a integração pela humilhação e pelo respeito fictício.
O ciclo repetia-se? Desta vez a resistência foi mais feroz, senti-me contrário a uma vaga de psicose alastrada do do unto others, assisti impávido enquanto pessoas - inteligentes, capazes - se submetiam às vontades de um alarve imbecil que dava pelo título de Dux. Afastei-me, outra vez, fui ter com os "extremistas drogados" da república e encontrei amigos a sério.
Conto isto porque não me surpreende, no sentido resignado e triste da falta de surpresa, quando as piores previsões que faço a este pardieiro de país se confirmam:
link
Atentai. O objectivo do governo é claro: estratificar o ensino. Privilegiar os privilegiados, canalizar os bons para boas escolas, empurrar os menos bons para escolas menos boas.
Propagandeemos o mérito e a estratificação, porque já nada mais se espera desta gente do que o sentido imerecido de glória. Vamos, todos, dividir a sociedade entre os "excelentes", os "muito bons" e os "bons". Admirável mundo novo suspenso no arbitrário e no orgulho efémero, oco; não há Huxley que nos valhe.
Quanto a mim, vou continuar com os rejeitados. Esta luta é incomensurável. Serei a mudança que quero ver neste mundo, como diria o profeta, e definir-me-ei por com quem ando. Como dizia o povinho.
E dia 12 vou ao Porto.
Retorno à cantina dos grelhados
Na última quarta feira, dia 23, tive o privilégio de assistir a mais uma Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra, algo que não fazia desde há vários meses. A minha militância no movimento estudantil viu-se interrompida durante um ano lectivo pela minha estadia no estrangeiro, prolongando-se a interrupção pela particularidade de a elaboração da minha dissertação não exigir uma presença diária na cidade universitária. Assim, não tendo perspectivas de voltar a militar no movimento estudantil de forma activa, retornar uma última vez à cantina dos grelhados para assistir à magna reunião da academia foi deveras interessante.
Verdade seja dita, pouco ou nada mudou. Temos um centrão, dominante desde há décadas na direcção-geral da AAC, que se proclama como o mais intransigente defensor dos direitos dos estudantes, desde que eles se limitem formalmente à luta de gabinetes e às acções de luta simbólica para inglês ver; por seu lado, existe também uma espécie de direita “caceteira”, momentaneamente representada por um indivíduo que responde pelo nome de “Alface”, cujas regurgitações verbais, típicas da direita cavernosa mais ignorante, nos abstemos de escrutinar; temos depois os sectores adictos à JCP, os quais levantam a imperiosidade da luta, desde que cada macaco lute no seu galho, que isso de um cenário de estudantes unidos aos trabalhadores ou aos precários é coisa ruim; por fim, temos um sector mais à esquerda, dinamizado pelos activistas da Frente de Acção Estudantil (FAE) e outros estudantes de esquerda que continuam a pugnar pela necessidade de defender direitos adquiridos, assim como reivindicar outros que ainda se venham a adquirir através da luta incessante contra o governo dos agiotas.
Primeiro, não vou entrar por declarações vazias sobre a AAC, sumarizar a sua “história de luta”, os seus “valores” e/ou “princípios perenes”. Os organismos associativos não possuem uma forma absoluta e imutável. Elas são o que as pessoas fazem delas, assumem as formas que as dinâmicas internas e externas lhe permitem assumir e o seu carácter pode ser historicamente progressivo ou negativo, consoante o contexto histórico-político que as rodeia. É inegável o papel progressivo que a AAC teve na luta contra o fascismo. Já o papel que pode encarnar na luta para ultrapassar as vicissitudes próprias uma democracia podre, é outra história.
A máquina da AAC está eficazmente montada e oleada para manter uma burocracia na direcção, a qual serve com autêntico tampão para a concretização de movimentações reivindicativas por parte dos estudantes. O centrão (JS – JSD) canaliza para aí os seus quadros, os quais protagonizam no seu seio um autêntico “estágio” para a prática política parlamentar . Em grande medida, é a consciência generalizada deste fenómeno, isto é, o dos chamados “tachos” e das maquinações dos “politiqueiros” profissionais, que afasta a esmagadora maioria dos associados de qualquer papel activo na dinamização da AAC. Para constatar isso, basta determo-nos durante dois minutos nos níveis de abstenção dos processos eleitorais, que revelam uma atitude de alheamento por parte dos estudantes que nem os milhões de euros gastos em propaganda pelas máquinas partidárias das J’s consegue subverter.
Durante a minha passagem pelo movimento estudantil, verifiquei que muitas vezes a discussão entre estudantes de esquerda se focava na velha questão: “reformar” a AAC por dentro ou formar um movimento associativo de novo tipo, á margem dos burocratas que insistem em governar o edifício da AAC? Da minha parte, não vislumbrando qualquer alternativa extra-AAC, assumo que não se deve descurar uma intervenção activa no seu interior. Era o que defendia enquanto vivi em Coimbra e assim continuo a pensar. Não excluo a possibilidade de se verificar uma ascensão do movimento estudantil que possibilite um processo de “limpeza interna”, que afaste os burocratas dos cargos de direcção, entregando-a nas mãos dos sectores combativos de esquerda da academia. Tal cenário não é impossível mas, nas condições actuais, é altamente improvável.
Reformar o funcionamento interno da AAC é equivalente a mover uma montanha, constatação que qualquer activista de esquerda que tenha agido nos meandros da universidade coimbrã facilmente subscreverá. Qualquer entidade colectiva institucionalizada, formalmente investida de funções de defesa dos interesses de um dado grupo social, particularmente uma com as dimensões e influência social como a AAC, tende a burocratizar-se e submeter-se à situação política e económica que a enquadra. A elite política e económica ingere e toma o controlo da dita instituição, através de uma casta burocrática. Isto é verdade para associações de tipo sindical, que exercem um papel esmagador no contexto geral da luta de classes, e o mesmo se aplica, grosso modo, à AAC, admitindo que esta se encontra investida de alguma forma, de funções sindicais. Derrubar a burocracia estudantil e assumir o controlo da direcção-geral da AAC é uma tarefa hercúlea, que facilmente consome energias que poderiam ser dispendidas em outras actividades organizativas e políticas.
No entanto, não podemos acriticamente traçar paralelismos entre associativismo no ensino superior e o movimento sindical. Desde logo, uma notória diferença salta á vista: a AAC é um organismo supra-classista, os sindicatos não o são. Somos estudantes, é certo, mas não podemos ignorar a nossa origem de classe. Filhos de trabalhadores, ou os próprios trabalhadores-estudantes, são uma coisa, filhos de industriais ou de banqueiros são outra. Não podemos pretender que os segundos defendam a acção social com o mesmo vigor que o primeiros. Assim, a elite económica e política muito mais facilmente toma conta do movimento associativo estudantil do que do sindical. É isso que se verifica neste momento na AAC. Por muito burocratizada e submetida ao regime político que esteja a CGTP, por exemplo, é difícil para o patronato integrar os seus representantes directos na direcção da central sindical. Ora, tal não parece inverosímil no contexto específico da AAC. A quem tenha algum tempo livre, seria interessante averiguar as origens de classe e proveniência partidária dos sucessivos presidentes das direcções-gerais da AAC. Assim, se esta teve um papel combativo durante a última década do salazarismo em Portugal, como referimos antes, não podemos esquecer que a luta política contra Salazar e Caetano, em certa medida, reflectia o confronto de um sector da burguesia contra outro. A caracterização agora é bastante diferente e certamente que não necessitarei lembrar de qual a classe dos afectados pelos cortes da acção social, e quais os beneficiados com o desmantelamento do Estado Social.
Sem querer escamotear o inestimável valor revelado por colectivos de estudantes intransigentes e combativos, quando inseridos nas fileiras do associativismo estudantil de matriz tradicional, apenas queria apontar as enormes tarefas que se levantam ao agir no interior de um organismo como a AAC. Durante quatros anos, enquadrei a minha militância num desses colectivo, a FAE, de maneira que conheço bastante bem o seu trabalho, o qual só poderia elogiar. A realização da importante manifestação de Novembro mostrou de forma indubitável a importância absoluta que os militantes da esquerda combativa possuem na AAC, na mobilização dos estudantes para o caminho da luta, mesmo quando enfrentam todas as limitações e vicissitudes burocráticas acima referidas. Tal é o caso da FAE, cuja tenacidade e perseverança me resta apenas elogiar.
Da mesma forma, também queria indicar o que seria para mim a situação ideal, ainda que assuma que seja semi-utópica, dada a contextualização actual: a construção de um movimento associativo estudantil de novo tipo. Um movimento associativo estudantil que reflicta os antagonismos de classe, os quais não são neutralizados á porta da faculdade. Um movimento associativo estudantil que organize e represente os sectores desprotegidos dos estudantes: os trabalhadores-estudantes, os estudantes originários da classe trabalhadora e da pequena-burguesia radicalizada, os bolseiros, etc. Ou seja, um movimento associativo estudantil que organize os afectados pelos cortes da acção social e pelo ataque ao ensino superior público. Esta reflexão ocupou-me bastante tempo e, a meu ver, seria um importante passo para um movimento estudantil combativo. Tarefa complicada, bem sei, mas ainda não cobram impostos por sonhar…
P.S: Ademais, parece que o bom senso ainda não se fez ouvir nos meios académicos de Coimbra e as moções continuam a ser votadas ás 5:30 da manhã...
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Afinal, quem é que vive acima das nossas possibilidades?
Com que então, responsabilidade nas contas públicas e contenção salarial?
420.000,00 € | TAP | administrador | Fernando Pinto |
371.000,00 € | CGD | administrador | Faria de Oliveira |
365.000,00 € | PT | administrador | Henrique Granadeiro |
250.040,00 € | RTP | administrador | Guilherme Costa |
249.448,00 € | Banco Portugal | administrador | Vítor Constâncio |
247.938,00 € | ISP | administrador | Fernando Nogueira |
245.552,00 € | CMVM | Presidente | Carlos Tavares |
233.857,00 € | ERSE | administrador | Vítor Santos |
224.000,00 € | ANA COM | administrador | Amado da Silva |
200.200,00 € | CTT | Presidente | Mata da Costa |
134.197,00 € | Parpublica | administrador | José Plácido Reis |
133.000,00 € | ANA | administrador | Guilhermino Rodrigues |
126.686,00 € | ADP | administrador | Pedro Serra |
96.507,00 € | Metro Porto | administrador | António Oliveira Fonseca |
89.299,00 € | LUSA | administrador | Afonso Camões |
69.110,00 € | CP | administrador | Cardoso dos Reis |
66.536,00 € | REFER | administrador | Luís Pardal: Refer |
66.536,00 € | Metro Lisboa | administrador | Joaquim Reis |
58.865,00 € | CARRIS | administrador | José Manuel Rodrigues |
58.859,00 € | STCP | administrador | Fernanda Meneses |
3.706.630,00 € | |||
51.892.820,00 € | Valor do ordenado anual (12 meses + subs Natal + subs férias) | ||
926.657,50 € | Média Prémios | ||
52.819.477,50 € | |||
900,00 € | Média de um funcionário público | ||
58.688,31 - nº de funcionários públicos que dá para pagar com o mesmo dinheiro |
Querem uma proposta sobre quais os cintos que devem ser apertados? Será que uma resposta à lá Egipto não será a mais indicada também neste caso?
(Via Tiago Silva, outro que não eu, do http://thibault-o-observador.blogspot.com/)
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Diz-me com quem andas...
Será que é hoje que mais um dos amigos de Sócrates e do "socialismo democrático" cai do pedestal?...
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Falar à esquerda ou agir à esquerda?
Algumas individualidades ligadas ao BE ficaram incomodadas com a reacção negativa de certos sectores da esquerda relativamente à moção de censura que o partido vai apresentar à votação da Assembleia da República em Março. A crónica de São José Almeida, no Público do último sábado, onde adjectiva a moção do BE como “ridícula” motivou reacções por partes dos bloquistas, como é óbvio.
Da minha parte, não acho que uma moção de censura ao governo de Sócrates seja ridícula nem desprovida de necessidade objectiva, face às políticas que o governo tem vindo a implementar e aqueloutras cuja implementação prática ainda se não verificou. O que eu critico, primeiramente, é a incoerência do percurso político dos bloquistas, a qual eu próprio já apontei num texto anterior. No entanto, esta facilmente se perdoaria, caso o BE atinasse no seu caminho. No entanto, parece que tal se não verifica.
No mesmo texto que referenciei acima apontei os reais motivos da apresentação da moção, e aqui entra o segundo objecto de crítica à dita. O que torna a moção “ridícula” é a sua ineficiência, agravando ainda o facto de ela ser consciente da parte de quem a apresenta. Hostilizar à priori aqueles que a poderiam viabilizar é o que a torna inconsequente, isto é, “ridícula” aos olhos de São José Almeida. Esta moção não tem como ojectivo derrubar Sócrates, apenas a salvaguarda do BE aos olhos do seu eleitorado e se isso não é “ridículo” é, pelo menos, falso, desonesto, logo, condenável para uma esquerda socialista e popular. Havia mil maneiras de redigir um texto que obrigasse a direita a votar favoravelmente a derrubada de Sócrates ou, caso o não fizesse, entrar em contradição insanável com o que tem vindo a defender. Por exemplo, simplesmente censurar o governo por não cumprir o seu programa eleitoral. Gostava de ver a extrema-direita populista e os deputados do PSD a votar contra isso...
Defendem-se os apoiantes da inconsequente moção do BE afirmando que já muitas moções foram apresentadas sabendo-se de antemão que não iriam ser aprovadas. É uma verdade indubitável, mas buscar na prática parlamentar passada o critério de acção do BE do presente não abona em favor da credibilidade do partido como alternativa ao pântano político actual. Pelo contrário, integra-o no simulacro de democracia que São José Almeida justamente critica no seu texto. No entanto, lá está: depende sempre dos objectivos políticos que os dirigentes do partido impõem a si próprios. Não me admira nada que a manutenção do pântano parlamentar e do simulacro de democracia esteja conforme aos interesses destes. No que me toca, não só não defendo o simulacro de democracia, como penso que não basta um simulacro de oposição. Não basta falar à esquerda, mas sim agir à esquerda.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Trabalhadores "à rasca" e menos "à rasca", uni-vos!
Olho com o maior interesse para o protesto marcado para o dia 12 de Março, o chamado protesto da “geração à rasca”. Primeiro, devido à forma como foi convocado, por um grupo de activistas que iniciaram a convocatória de modo relativamente espontâneo através do Facebook e da criação de um blog. Ora, foi uma acção de protesto chamada completamente à revelia das organizações sindicais tradicionais, demasiado ocupadas com guerrilhas de gabinete, e os partidos parlamentares, entusiasticamente entretidos a discutir moções de censura a fingir, sem qualquer efeito consequente, a não ser o benefício de uma cobertura mediática, o que não é de menor importância, pois é esta a mão que os alimenta, não a implantação nos movimentos sociais.
A “geração à rasca”, esta camada da classe trabalhadora a que se convencionou chamar o “precariado”, i.e., os “trabalhadores independentes” a recibos verdes, os bolseiros, os dependentes de contratos a termo para postos de trabalho que de temporário não têm nada, os perpétuos semi-desempregados, ou os jovens cuja única experiência no mercado de trabalho resume-se precisamente à falta deste, têm todas as razões para protestar. São a face visível do efeito nefasto que a globalização neoliberal teve nas novas gerações de trabalhadores. Representam o retrocesso civilizacional, porquanto o “precariado” tem numerosas características comuns com o proletariado de épocas anteriores à conquista de direitos sociais básicos, como o direito a férias pagas, 13º mês, contratos estáveis, direito a baixa médica no caso de doença, direito a ter filhos e a uma reforma digna ao fim da vida. E desenganem-se se pensam que estas pequenas grandes conquistas foram realizadas pacificamente, graças ao trabalho dedicado dos nossos doutos parlamentares (não de todos, pelo menos), pois foi a luta e a pressão nas ruas que outorgaram tais direitos a quem trabalha. Em Portugal, apenas uma revolução política e a ameaça de uma revolução social arrancou a ferros estes direitos básicos dos governos burgueses. Assim o foi no passado, e estou bastante seguro que assim o será no futuro.
Apesar de reflectir relações de produção que assumem formas bastante vetustas (chegaria a afirmar, típicas do século XIX), o ressurgimento de uma camada da classe trabalhadora precária, cujas modalidades contratuais estão completamente desenquadradas do contexto histórico onde o movimento sindical português nasceu e cresceu, levou ao desenraizamento daquela em relação a este. Isto é, o movimento sindical, por várias razões, não soube enquadrar esta camada no seu seio. O facto de que os trabalhadores precários muitas vezes não se encontram enraizados numa empresa específica, estão dependentes de empresas de trabalho temporário, logo encontrando-se em permanentes deslocações de empresa para empresa, levou a uma incapacidade manifesta da parte da Intersindical de os enquadrar organizativamente. Digo organizativamente, porque é visível que os sindicatos, nomeadamente a CGTP, já incorporaram a luta pelos direitos dos precários no seu discurso oficial, basta ver a resolução que decidiu a realização da manifestação nacional de dia 19 de Março, onde as reivindicações pelo direito à estabilidade no trabalho e pelo fim do trabalho precário foram insertas. Mas não basta assimilar na consciência colectiva sindical que esta camada social existe, e assumir nos discursos e resoluções que estão do lado deles. É necessário enquadrá-los organizativamente, recebê-los no seio dos sindicatos, para que eles próprios possam enunciar as suas reivindicações, organizar formas de protesto e participar num movimento sindical mais amplo. Óbvio que para atingir este objectivo teria de ocorrer uma autêntica “revolução interna” na CGTP: teria que se permitir uma organização mais flexível para o sector do “precariado”, além de estabelecer práticas mais democráticas e anti-burocráticas no seio do movimento sindical geral, outro dos grandes desafios que os sindicalistas enfrentam, se querem mudanças a sério para a classe à qual pertencem e representam.
Entretanto, é bom que a “geração à rasca” se organize da forma que pode, e o protesto de 12 de Março é um passo importante. Também não é menos importante o protesto marcado pela CGTP, para dia 19 de Março. Da minha parte, espero apenas que desta vez se veicule uma perspectiva de contestação crescente e contínua, além da integração unitária de todos os sectores da classe trabalhadora num objectivo imediato comum: a caída de Sócrates, pois essa é a única maneira de se verificar a “mudança de políticas” que a CGTP eternamente exige. Há que concretizar: para uma mudança de políticas, Sócrates para a rua! Todos os trabalhadores, precários e menos precários, nacionais e imigrantes, homens e mulheres, devem estar unidos nessa luta. É essa a censura que o governo merece, a censura que o pretenda derrubar efectivamente, porque de teatro parlamentar e tacticismos políticos inócuos já estamos nós fartos.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Mapa do movimento revolucionário mundial
Parece que Tripoli é o epicentro do terramoto agora.
Constatações
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Portugal allez
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
E a próxima Deolinda vai para...
Enternecedor, no mínimo.
O centro da atenção
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Nem tudo são más notícias...
(Lenin, em "A revolução proletária e o renegado Kautsky", sendo este o líder teórico da II Internacional, aquela mesma que alberga os partidos governantes das ditaduras do Egipto e Tunísia, e cujos dirigentes vão depois ensinar os ignorantes magrebinos como fazer a "transição democrática", i.e., protesta mas baixinho, senão levas no focinho)
Bem, afinal a democracia não sofre nenhuma crise com o actual servilismo dos governos "socialistas" ao capital financeiro. Apenas segue um curso delineado desde longa data... Com isto, só queria ter uma citação bonita para dar os parabéns a todos os arautos das virtudes da democracia parlamentar, desde o Paulo Portas até ao Francisco Louçã. Um bem-haja por nos entreterem com discursos exuberantes e moções de censura a fingir!
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Para compreender as revoluções dos outros...
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Algumas notas sobre a revolução egípcia
Mubarak caiu. Um passo importante foi dado no Egipto. A altura é de alegria e de festa, não só para os revolucionários egípcios, mas para todos que sonham com uma terra sem amos, patrões e chefes supremos.
O primeiro impulso para muitos foi gritar “vitória”, enquanto outros proclamam a demissão de Mubarak como o desfecho da revolução, e o ponto de partida para a “transição”. Percebo os primeiros, que impulsivamente confundem a partida com a meta, e certamente compreendo os segundos, entre eles, os líderes europeus e norte -americanos, que temem as consequências do poder revolucionário popular.
A revolução não termina com a demissão de Mubarak, é agora que ela se inicia. Várias tarefas democráticas levantam-se: primeiro, livrar-se de todos os vestígios do regime, ao nível do poder político, económico e militar. Mubarak, Suleiman e respectivos compinchas devem ser julgados e condenados, e as reivindicações nesse sentido já se iniciaram, elevando o tom do protesto. Segundo, os militares não devem continuar a exercer o poder. Eles foram o principal sustentáculo do regime, e não prevejo que o seu carácter e metodologia se altere de um dia para o outro. Certamente que haverá sectores progressistas nas forças armadas, mas nesse caso, deveriam-se organizar independentemente dos oficiais, a maioria deles provavelmente ligados de alguma maneira ao regime moribundo. O papel do exército e da polícia na sustentação do regime de Mubarak não deve, no entanto, ser escamoteado. Em Portugal, confiar no MFA como representante supra-classista dos anseios populares foi um erro que levou irremediavelmente ao golpe de 25 de Novembro.
Terceiro, e ainda no campo da revolução democrática nacional, deve-se garantir a autodeterminação política do país, isto é, golpear o imperialismo ocidental, e sua vertente sionista, na região. O regime de Mubarak era respeitado e protegido tanto pelos EUA como pela EU, que usavam os recursos do país, resignado a uma elite dominante, segundo as suas necessidades geo-estratégicas e militares. Agora, depois de se aperceberem da queda iminente do regime apodrecido, a palavra “democracia” voltou aos seus discursos. Afastam os olhos de Mubarak, começam a falar em “não-violência”, e tornam o olhar para o exército e para os sectores “democratas”, como El Baradei. Também este, o “Spínola” egípcio, deve ser derrotado. Derrotar o regime de Mubarak exige também a derrota do imperialismo e do sionismo, fenómeno central para o futuro da região.
E a partir daqui é que as coisas se tornam espinhosas. As reivindicações económico-sociais, reais motores da revolução, irão emergir, e desaparecerá a aparente "unidade" do povo egípcio nas suas demandas. Já se notam as tentativas de “esvaziar” o conteúdo das exigências do povo egípcio. Os comentadores geralmente falam numa luta pela democracia, pela liberdade política, e nada mais. Diga-se, da mesma forma como se depurou a revolução de 1974 – 1975 em Portugal do seu carácter pró-socialista. Segundo a ideologia dominante, o Abril português não foi essencialmente uma luta pela emancipação dos trabalhadores e por melhor qualidade de vida. Não, foi apenas uma luta pela democracia e pela liberdade, conceitos tão abstractos e relativos na boca da burguesia. O mesmo acontece no Egipto. Ignoram a raiz material do movimento revolucionário. Esquecem-se dos mais de 40 milhões de pessoas, metade da população, que vive com menos de 50 euros por mês. Esquecem-se dos 23% de crianças com menos de 15 anos que vivem na miséria extrema, devendo-se confrontar estes exemplos com aqueloutro dos burgueses que vão a Londres e voltam no mesmo dia para cortar o cabelo ou tomar uma refeição. A origem da revolução, lá como cá, é a mesma: miséria, desigualdade e repressão. Quando as reivindicações subirem de tom, e espero que subam, e se exija à burguesia, tanto a corrupta como a menos poluta, que se afaste do poder, aí sim, a revolução assume as suas formas finais. Isto não é uma luta por “democracia”. Não é uma mera troca de um capataz bruto por outro mais meiguinho. É uma luta de morte pelo direito à habitação, comida, saúde, educação, em suma, uma vida digna. Para isso, nem Mubaraks, nem Baradeis e muito menos Obamas. Poder popular é a resposta. Como se vê, a situação tem incríveis similitudes com a portuguesa. Esperemos que, lá como cá, surja um movimento de massas e uma direcção política à altura das tarefas que se impõem.
P.S: Não deixo de esboçar um sorriso, ao relembrar que o movimento de massas foi despoletado por um grupo de bloggers e “facebookers” que convocou uma modesta manifestação espontânea no dia 25 de Janeiro, em memória de Khaled Said, assassinado pela polícia meses antes. Pois é caríssimos, eu tinha razão: os novos meios de comunicação webísticos têm um papel a cumprir na mobilização geral. Censurar um revolucionário de hoje em dia por ter blog e perfil de facebook é o mesmo que censurar um bolchevique russo do início do século XX por utilizar a rádio como forma de divulgação. Ainda que não tenha sido o elemento decisivo, a web fez mais pela revolução no Egipto que as trinta mil publicações das outras tantas Quartas Internacionais.
Rua com Mubarak e seus esbirros!
Primeira vitória no Egipto. Reflexões ficam para mais tarde, por agora, festa e revolução!
Aqui fica uma contribuição musical para as reflexões que têm de ser feitas.
Everybody's Fault!!!
Futurologia
Eu compreendo que ninguém pudesse ficar à espera que o PCP se mexesse. Mas... moção de censura? Contra o governo... agora? Mas isto é castigo por o Alegre ter perdido?
Tenho reparado num fenómeno: há muito pardal no BE convencido que este país é só malta de esquerda. Aliás, a chuva de parvoíces e insultos em torno dos abstencionistas e dos que votam em branco recente não foge muito ao argumento: a culpa é de quem não participa! Se não participas, claro que a direita vai continuar lá!
Cá para mim o BE está desfasado da realidade. Derrubar o governo? Agora? Está certo que o PS não é muito diferente do PSD hoje em dia, mas daí a dar maiorias absolutas ao último de bandeja... (sim, caros: era isso que ia acontecer. a culpa não ia ser dos votos em branco. não ia ser dos revolucionários de sofá. metam na cabeça que dois terços da massa votante não vai na cantiga dos partidos de esquerda.)
O que nos vale é que nem o PSD alinha nisto. Incrível, não é?
Quem segura o leme no BE?
Ainda alguém segura o leme no barco do BE, ou a navegação à deriva já é oficial? Primeiro, os bloquistas recusam viabilizar qualquer moção de censura que vise derrubar governo, pois isso seria abrir o caminho do poder à direita (como se o PS não pertencesse a essa categorização ambígua que dá pelo nome de “direita”). Depois, andam de braço dado com o Sócrates a correr o país com um candidato presidencial conjunto, propalando o PS como o garante do Estado Social, ao mesmo tempo que reduz todos os que discordam da táctica de aproximação ao governo a meros reaccionários cavaquistas, pagos pela CIA. Qual o meu espanto quando vou ver as notícias e sou informado que o BE vai apresentar uma moção de censura!
Louçã e relativos camaradas já se aperceberam do tiro no pé que foi a campanha presidencial e pretendem recuperar a imagem da “esquerda que dá luta”. No entanto, estão fartos de saber que o PSD não vai votar favoravelmente esta moção, reduzindo-a a mero fogo de vista. O BE quer recuperar a imagem de esquerda combativa que um dia apresentou? Comece por ser honesto. Ou se está contra o governo ou não. Tácticas políticas contorcionistas e jogos de bastidores parlamentares não contribuem para a credibilização do partido como esquerda de combate. Ou se alinha com quem está contra a “direita”, incluindo nesta definição o PS, ou segue os conselhos da “esquerda responsável” (cujo timoneiro no BE responde pelo nome de Daniel Oliveira) na defesa do governo de Sócrates. A clarificação impõe-se, de facto. Não ao PSD, obviamente, dessa bancada já estamos fartos de saber qual o projecto que apresentam ao país. É altura do BE escolher. A luta ou a institucionalização. Eu desconfio que já sei a resposta, mas há muita boa gente que ainda deposita esperanças vãs.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Quantos anos de vida custa ser operário?
No Público de 7 de Fevereiro, foi publicada uma notícia que nos informa de um recente trabalho de investigação, levada a cabo pelo sociólogo Ricardo Antunes, do Instituto Universitário de Lisboa, segundo a qual a classe social é o factor determinante na desigualdade da idade média de vida, e não a geografia. O estudo, com o título Classes Sociais e a Desigualdade na Saúde, conclui que indivíduos de estratos sociais mais elevados vivem, em média, mais dez anos do que os operários. Os factores determinantes são, segundo Ricardo Antunes, o nível de escolaridade e os recursos materiais (dez anos adicionais extorquidos através da contínua extracção de mais – valia dos trabalhadores, acrescentaríamos nós). Assim, vê-se que a progressiva destruição do Serviço Nacional de Saúde não é o único obstáculo ao direito à igualdade no acesso à saúde. O próprio sistema económico, inerentemente injusto, também o é. Não basta (re)construir o SNS, de forma a que cubra todo o território nacional com serviços de saúde qualificados e gratuitos, é necessário construir de raiz uma sociedade justa, onde a riqueza seja racionalmente distribuída e o acesso à educação facilitado para toda a população. Tarefa impossível para governos cujas cervizes se dobram aos pés dos mercados financeiros internacionais e do imperialismo político da União Europeia, portanto.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Moving Forward
Aproximar-se-á a queda do sionismo?
Noticia 1
Noticia 2
Estas duas noticias expõem de forma clara os perigos que a revolução no Egipto levanta para o enclave sionista de Israel. O Egipto é a chave mestra para a domesticação e pacificação do mundo árabe, relativamente ao colonialismo sionista, como tal, se o governo fortemente pró-sionista de Mubarak cai, Netanyahu e respectivos compinchas estão em maus lençóis. Daí a importância de uma nova Intifada na Palestina, concertada com as revoluções nos países vizinhos. O estado israelita já se apercebeu dos perigos que corre desde o início, e sabe que a vitória da (verdadeira) democracia no Egipto (não a democracia tutelada pelo Império, como pretende Baradei) pode ser o início do seu fim.
Assim, é sumamente revelador ver a simpatia que os altos responsáveis da "única democracia do Médio Oriente" demonstram por todas as ditadura sanguinárias dos países árabes. Nas palavras de Netanyahu:
"I'm not sure the time is right for the Arab region to go through the democratic process"
Ou então, quando cita a Faixa de Gaza como a "signal warning of the risk that comes with asking the people what they want".
De facto, Israel, como mera colónia militarizada, vai contra o que os povos da zona querem, é um dos maiores obstáculos a qualquer democracia nacional na zona, e a sua destruição total é, pela mesma lógica, um serviço a um Médio Oriente melhor. A ver vamos, como as coisas evoluem...