sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma ideia a debater

Estive a considerar esta questão da interferência internacional em cenários de guerra e campos de refugiados, paralelamente à expansão progressiva de camadas sobreexploradas nos próprios sistemas capitalistas europeus.

Magiquei um projecto de reestruturação do trabalho que passaria pela ocupação dos territórios por explorar em Portugal. Esse projecto seria centrado nos baldios e nas terras que, tendo dono, não são aproveitadas (por exemplo, as dezenas ou centenas de hectares de terreno desértico no Alentejo que estão dentro de Herdades).

A ideia passaria por um recrutamento (estritamente voluntário e devidamente informado) entre as populações pobres das grandes cidades e entre campos de refugiados a nível internacional. Haveria, neste último caso, agilização no processo de nacionalização ou de instauração de dupla ou múltiplas nacionalidades, de forma a legalizar os trabalhadores e garantir a sua segurança. Essas camadas seriam mobilizadas para os terrenos de intervenção de trabalho supramencionados. A ideia seria criar campos de trabalho (sem a conotação fechada e punitiva que esta expressão muitas vezes transporta) em que se empregaria estes desterrados.

Seria, portanto, um projecto a médio prazo, mobilizando os licenciados desempregados nas áreas de ciencias sociais - para a devida mediação intercultural e para assistência ao processo de naturalização, para além de um estudo contínuo das necessidades e problemas que decorreriam certamente e às suas possíveis soluções -, nas áreas ligadas à biologia, ecologia e saúde - para garantir a necessária qualidade de vida dos visados ao mesmo tempo que se segura a exploração devidamente sustentável dos recursos locais - e, claro, para as áreas da educação, direito e economia.

Estas camadas unir-se-iam em cooperativas de trabalho que teriam o objectivo de garantir, por um lado, o devido funcionamento orgânico de uma população tão heterogénea e, por outro, a força representativa necessária que compense as questões de exploração de grupos desfavorecidos que naturalmente acompanhariam estas medidas (tendo em conta que estas pessoas seriam encaminhadas para fazer um trabalho ao nível da exploração de matérias primas que a elite urbana e educada se recusa em grande parte a fazer). Todo o processo seria gerido de forma, talvez, associativa, com uma direcção eleita, não comprometendo a autonomia das diversas cooperativas por todo o país.

Macroeconomicamente viria acoplada uma política de trocas com os países lusófonos, por questões de união internacional e históricas, até porque, pela minha sensibilidade, serão países menos propensos a fechar a porta a Portugal.

Portanto, por tópicos:

- recrutamento e agilização do processo de naturalização de populações nacionais e internacionais carenciadas
- recrutamento de licenciados nas diversas áreas para o necessário acompanhamento científico e sustentado do projecto
- instauração de políticas de cooperação internacional com países de interesse estratégico fundamentado em afinidades culturais

Em teoria, parece-me ser uma medida que beneficia não só a solidez produtiva e económica do país como contribui para uma intervenção consequente em zonas de conflito nacionais e internacionais.

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Atiro este tópico para o ar. Gostava de ver as vossas opiniões sobre o assunto, parece-me que um blog será uma forma privilegiada de concertar alguma discussão interessante.

Convidem malta para o brainstorm, já que o pior que pode sair daqui é alguma aprendizagem, entre todos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Nem a população das aldeias de hoje trabalha a terra, porque prefere viver na miséria subsidiada, que lhe chega para comprar na mercearia, onde nunca conseguiriam vender o produto do seu trabalho, fruto de falta de competitividade. Isto passa-se com gente que trabalhou a terra no passado e é, toda ela, filha de camponeses. Por isso a questão seria ainda mais difícil com aqueles que nasceram na cidade. O primeiro ponto seria, portanto, garantir que a agricultura daria bom sustento e obrigaria a retirar os apoios sociais a quem vive desempregado na cidade e se recusasse a migrar.

Unknown disse...

Bom, não me agrada a ideia de obrigatoriedade (ou de retirar apoios sociais para obrigar a migrar), já que o resultado seria um sistema em que os pobres e desempregados são remetidos para os campos de trabalho - o que dá um certo cariz estratificante à coisa.
Por ouro lado, garantir o acesso estritamente voluntário e devidamente informado a este projecto seria garantir a intenção daqueles que entram, que sejam cientes do objectivo e da ideia central de desenvolvimento comunitário sustentado nos recursos disponíveis e que, portanto, não seja encarada como mais um emprego a juntar ao currículo.

A garantia que a agricultura daria bom sustento parte do funcionamento cooperativo, desde que eficaz, em que o trabalho colectivo permita o fornecimento alimentar aos próprios trabalhadores e a venda do excedente enriqueça tanto os cofres da organização (para permitir um fundo de maneio em alturas de escassez) como os bolsos dos trabalhadores.

Eu favoreceria uma distribuição equitativa do lucro e horários reduzidos de trabalho.