quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Afinal havia outra

... a juntar ao rol de Causas Para O Crime (C-POC) e para todos os comportamentos indesejáveis.*

Desta vez, a culpa é mesmo da pessoa:

“O nosso estudo mostra pela primeira vez que a força de vontade que se tem quando se é uma criança influencia as probabilidades de se ser saudável e rico durante a vida adulta”, disse, citada pela Reuters, Terrie Moffit, primeira autora.

No fundo, o capitalismo triunfa ao agir organicamente no tecido da selecção natural entre pessoas que se controlam melhor ou pior. A verdade é que coisas como educação e estrutura não passam de trivialidades quando confrontadas com este derradeiro traço de personalidade:

Segundo o artigo, as crianças com pouco autocontrolo tinham mais tendência a ter problemas de saúde durante a vida adulta (27 por cento contra as crianças com mais autocontrolo que tinham só onze por cento), como pressão arterial elevada, obesidade, problemas de respiração ou doenças sexualmente transmitidas. Além disso, era mais provável serem dependentes de substâncias (dez por cento contra três por cento) como o tabaco, o álcool e as drogas, tornarem-se pais solteiros (58 por cento contra 26 por cento), terem dificuldade em gerir dinheiro e terem um registo criminal aos 32 anos (43 por cento contra 13 por cento).

Cum carago! Parece que ser bem comportado compensa. Aliás, atestemos ao que a Time tem a dizer sobre o assunto**:

Problems surfacing in adolescence, such as becoming a smoker or getting pregnant, accounted for about half of the bad outcomes associated with low self-control in childhood. Kids who scored low on such measures — for instance, becoming easily frustrated, lacking persistence in reaching goals or performing tasks, or having difficulty waiting their turn in line — were roughly three times more likely to wind up as poor, addicted, single parents or to have multiple health problems as adults, compared with children who behaved more conscientiously as early as age 3.

Não vou perder tempo com o velho discurso das "condições sociais" - até porque levanto as minhas reservas - chamando apenas a atenção para isto: a deslocação analítica dos problemas da sociedade para uma espécie de etiologia individual (em que se decompõem comportamentos em causas e consequências, ambos imputáveis ao desenvolvimento da pessoa) descambam rapidamente no novo paternalismo do discurso capitalóide.

Se és pobre, a culpa é tua. Esquecendo que o pobre e o rico são, eles próprios, consequência do desfasamento normal das formas tipificadas de poder actuais e que, assim, actuam antes da própria condição da pessoa, não se podendo de forma minimamente inteligente acoplar esses conceitos ao de uma deriva natural ao traço de personalidade deste ou daquela.

Enfim.

*Não li o artigo original, não o encontrei, pelo que parto da análise da notícia em si (portanto, da leitura que foi feita do trabalho científico) e me refreio de criticar os resultados dos investigadores - que espero, não terão cometido tamanho erro de indução.

**Continuando na pseudociência, a Time apresenta-nos esta interessante lista de artigos relacionados:

More on Time.com:

Tiger Moms: Is Tough Parenting Really the Answer?

Snooze and Lose: More Weekend Sleep Cuts Kids' Obesity Risk

Behind the Viral Video: What's the Deal with 'Baby Yoga'?

Link 1

Link 2

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